Digitalização de Educação e Cultura

Escrito por Fidélia Pissarra

Há quem argumente que na diplomacia cultural, os museus têm vindo a emergir como atores tão mais efetivos, quanto mais efetivas forem as democracias que ajudam a robustecer, influenciando outros, através da sua atração e persuasão cultural. Papel com sucesso algo incerto, quando assente na digitalização dos acervos ensaiada antes da pandemia, porque na internet os compromissos, individuais e coletivos, costumam esgotar-se em acríticos “gostar” e “partilhar”. Compromissos, ao que parece, muito pouco conformes com as ideias de democracia e multiculturalidade, já que sem envolvimento do outro, ativo e empenhado, ninguém influencia ninguém e muito menos o ambiente. Conscientes disto os museus, na tentativa de obstar aos demolidores “gostar/partilhar”, durante o confinamento reinventaram a sua presença online continuando a exercer a sua influência, através de variadas e criativas atividades. Desde deixar-nos ser curadores a incentivar-nos a criar, bem se pode dizer que fizeram de tudo um pouco só para não nos perder de vista. Basta determo-nos no exemplo do Guggenheim, que convidou “prosumers” (expressão, mais recentemente, reconfigurada na transposição para: “advogados de produtos e marcas”) de todos os cantos do mundo a partilhar as suas próprias criações de arte através de um concurso global de vídeos criativos para perceber o empenho dos museus em continuar a assumir o protagonismo na diplomacia cultural. Com esta iniciativa, além de se ter gerado um espaço virtual, onde se discutiam artes, cultura e política contemporâneas em 26 Línguas, ainda foi conseguida a proeza de tornar viral a campanha inspirada no Instagram de tussenkunstenquarantaine. Com milhões de fotos, a imitar pinturas famosas de diferentes museus do mundo, a extravasar das redes sociais, os museus, ao premiar a visão individual do património cultural e incentivar o talento amador, encontraram, provável e pacificamente, a resposta para a diplomacia cultural digital, podendo continuar a exercer a influência que entenderem sobre os outros.

Em sentido oposto, parece não haver quem defenda o mesmo papel para a Escola, relativamente à Educação, com os arautos da desgraça, professores incluídos, a resistir a promover a influência educativa digital. Não obstante ter sido o princípio da educação aberta o que mais motivou o pai da Internet a criá-la, essa abertura continua longe de ser lograda e nem a pandemia contrariou tal realidade. Na diplomacia educativa, as escolas evidenciaram mais a ausência de estratégias para o exercício de um “soft power” digital efetivo, do que a presença de espírito para se adaptar eficazmente às circunstâncias. Talvez por isso, se algo de viral existiu no E@D, tenha sido mais a sua menorização, descomprometida e sarcasticamente generalizada através de “gostos” e “partilhas”, do que evidências da sua capacidade para cativar e seduzir alunos. Aqui chegados, não será legítimo concluir que o exercício da diplomacia digital é só para quem pode? Talvez seja, só para quem pode, mas lá que não convém nada, não.

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Fidélia Pissarra

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