DGAV – sempre!

Escrito por Diogo Cabrita

Serei conservador? Quase pela certa! Não quero aos animais melhor que aos humanos, não quero ser tratado num hospital onde chega o porco, a vaca ou o legume. Não quero ter por companhia de AL dois perus da Abissínia em férias no Uganda. Tenho parentes que me cheguem. Eu sou o Cabrita e comigo convivem cabras, ovelhas, carneiros, cabrões e borregos e bodes. O bode é especial porque lança o fascínio de hircinio para despertar nas fêmeas o seu encanto. Um viagra chamativo. Votou PAN. Já o carneiro o não tem. Votou CHEGA. Como há muitos seguidores caprinos, e muitos bajuladores ovinos a votar PS e PSD, e também há chefes que são grandes cabras e até votam na esquerda, eu quero este mundo onde vivo e trabalho só para nós. Não preciso que lá coloquem cães, cavalos, coelhos ou outros encantos de estimação.

A minha luta é contra a demagogia insana, a destruição do sistema veterinário em prol de uma ideologia de emoções.

O máximo da demagogia existiu em teses contra os espaços fechados, os postigos, as janelas de atendimento. Fizeram-se doutoramentos pelos espaços abertos, amplos, fizeram-se mestrados reduzindo a importância do perdigoto e do bafo e o esquecimento de uma evidência: pela boca matámos os indígenas aquém e além-mar. Dizimou com doenças Vasco da Gama mais que traficou. A virose levada no aerossol descobriu gente sem imunidade na América, na Índia, em África e matou enquanto pôde. Depois vieram os génios que apagaram a peste negra, que apoucaram a gripe, que nunca se lembram do mau hálito que atormenta os balconistas. Chegaram os génios do “open space” e agora: Covid! A vida é isto – ideologia de modernidade e oposição conservadora.

Os modernos querem impedir a eutanásia dos animais de estimação e agora sofrem com um problema de lotação e de verbas. Os modernos querem acabar com os veterinários como esteio condutor da saúde pública e com isso aumentam os riscos de exposição dos humanos a milhares de doenças que podem chegar dos pombos, dos coelhos, dos cães (hidatidose, leishmaniose), dos gatos (que nos dão toxoplasmose e bartonella henselae), das lebres (carregadas do vírus da mixomatose), dos javalis (hoje carregados de tuberculose e de trichinella). A relação dos homens com a bicharada não é de todo uma normalidade – é uma modernidade com contornos ideológicos. Eu posso colocar-me na luta contra os maus-tratos gratuitos e evitáveis. Mas não deixei de comer carne nessa luta, pelo que sou um conservador. Não gosto da agonia do peixe, mas vou grelhando umas postas e isso faz-me um conservador. O que não tolero é a demagogia balofa, a ausência de princípios e de critérios nas decisões, o avanço contra as instituições “à la Trump” porque sim, porque emotivamente se decidiu atacar seculares saberes, experiência e conhecimento que nos salva vida.

Ministros histéricos podem causar mais danos que incendiários. Hoje estamos perante uma luta de conservadores que até podem ser leitores de Karl Marx, associados com outros conservadores com o Corão debaixo do braço, contra modernistas que não querem vacinas e querem animais em livre matilha entre nós. A Europa está a mudar com definição de esquerda e direita enterrada há muito, e onde surgem novas lutas ideológicas impensáveis na maior parte dos países. O PAN é uma inexistência em inúmeros países e a sua presença e ideias levariam a decapitações em países como a Arábia Saudita, o Paquistão, etc. Sobretudo por isso, não concordo com eles, mas a sua existência tem de ser preservada e garantida, já a sua modernidade tem de ser claramente resumida ao seu real valor nacional e submetida à secularidade da ciência e do conhecimento dos que erradicaram a raiva em 1956, dos que nos salvaram da toxoplasmose endémica.

Não nos tramem. Não deixem as Cabras e os Ovinos governar! Depois, mandarão os pepinos e os brócolos, cansados das orgias dos ruminantes.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

Leave a Reply