Desporto na infância: a importância da avaliação médica

«O exame médico-desportivo é fundamental na avaliação do atleta, pelo que é importante não adiar este acompanhamento médico. É essencial que a sua realização seja efetuada por médicos experientes».

A Organização Mundial de Saúde reconhece o impacto positivo da atividade física para a promoção da saúde e como meio de prevenção de doenças.

A prática de desporto recreativo e federado fornece às crianças e adolescentes inúmeros benefícios, nomeadamente físicos, mentais e sociais. Contudo, para que esta prática de atividade física seja realizada em segurança é necessário fazer uma avaliação clínica designada como exame médico-desportivo. Este exame tem como objetivo identificar atletas com alguma doença subjacente silenciosa, em risco de desenvolverem complicações com o esforço.

O que é o exame médico-desportivo?

Consiste numa avaliação do estado de saúde do atleta. É obrigatório para todos os praticantes desportivos que estejam inscritos numa federação com estatuto de utilidade pública desportiva. Deve ser realizado na primeira inscrição e necessita de renovação anual.

Para que serve?

Pretende assegurar a prática desportiva em segurança e permite, também, identificar patologias associadas a risco aumentado de morte súbita ou com risco de agravamento com o esforço físico continuado.

Como o fazer?

Esta avaliação médica deve ser realizada cumprindo os critérios definidos num impresso próprio para este fim. Inclui informação sobre os antecedentes médicos, desportivos, antecedentes pessoais e familiares, tentando identificar sintomas patológicos ou eventual doença hereditária que possa comprometer a segurança da prática de exercício físico.

No que respeita ao exame físico passa pela avaliação global do atleta, com particular atenção na avaliação morfológica e funcional, com auscultação cardiopulmonar, palpação abdominal e dos pulsos arteriais.

Em Portugal o exame médico desportivo inclui, de forma obrigatória, a realização de eletrocardiograma (ECG), que deve ser realizado anualmente e funciona como exame de rastreio. Importa referir que 70 a 80% das doenças cardíacas estruturais podem ser identificadas com base na clínica e no ECG. Contudo, o ECG deve ser interpretado por médicos experientes atendendo às adaptações eletrocardiográficas fisiológicas em idade pediátrica, situação designada como coração de atleta, para evitar os falsos positivos, que geram uma grande ansiedade e também um número significativo de estudos adicionais desnecessários.

Contudo, pela incapacidade do ECG em diagnosticar todas as doenças cardíacas, é recomendado realizar pelo menos um ecocardiograma no início da atividade física e repetir posteriormente consoante a intensidade do exercício federado.

Como conclusão, o exame médico-desportivo é fundamental na avaliação do atleta, pelo que é importante não adiar este acompanhamento médico. É essencial que a sua realização seja efetuada por médicos experientes, de forma a não desqualificar nenhum atleta erradamente ou permitir a atividade física federada em atletas em risco de desenvolver complicações ou com necessidade de mais investigação.

* Cardiologista Pediátrica no Hospital CUF Viseu e CUF Coimbra

N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.

Sobre o autor

Patrícia Vaz Silva

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