O Dia do Exército de 2024, celebrado na Guarda a 25 de outubro, foi uma ocasião nacional para refletir a forma como em Portugal o investimento e a inovação em Defesa podem ser postos ao serviço da competitividade da economia nacional. Participei nessa reflexão a convite do Chefe do Estado-Maior do Exército e, pela minha parte, propus que a relação entre Defesa e indústria sirva também para reforçar a coesão nacional e, assim, reduzir as assimetrias entre os grandes centros e as regiões do interior do país.
O pano de fundo desta minha proposta foi o relatório de Mario Draghi sobre “O Futuro da Competitividade Europeia”, divulgado em setembro, o qual colocou a Defesa no centro do processo económico da União Europeia e, portanto, de cada um dos seus países membros, entre os quais Portugal. Ao colocar a Defesa como um elemento-chave da competitividade europeia, Mario Draghi ligou totalmente a Defesa – o investimento nas Forças Armadas – ao ensino superior e à indústria.
Face à consolidação dos Estados Unidos na liderança da economia mundial, e à emergência neste século XXI da China e de países como a Índia ou o Brasil como detentores de percentagens cada vez maiores do PIB mundial, o relatório Draghi defende que o relançamento da economia europeia tem de ser baseado numa maior colaboração entre universidades e indústrias, de modo a «acelerar a transferência de tecnologia dos laboratórios para o mercado». Mario Draghi apela, por isso, a mais investimento na Defesa para que esta solicite, estimule e desenvolva a ciência e o conhecimento que se produz no Ensino Superior e nos centros de investigação.
Isto traz-nos à Guarda, ao interior de Portugal e ao papel que o Ensino Superior pode desempenhar na atração, implantação e desenvolvimento de indústrias avançadas com relevância para as tecnologias de Defesa nestes territórios. Dentro destes investimentos tecnológicos de grande valor acrescentado, terão de se incluir os investimentos em empresas cuja Investigação & Desenvolvimento possa ter interesse e aplicação nas indústrias de Defesa.
O desenvolvimento do interior, e de Portugal inteiro, deve passar por aqui: por uma conjugação de esforços que reforce o Ensino Superior no Interior, que promova a empregabilidade, a atração e fixação de pessoas, a qualificação da mão de obra e a possibilidade de produzir tecnologia de ponta para clientes de exigência tão elevada como são os da área da Defesa.
Esta deve ser uma chave para travar e inverter a desertificação do interior. Se a interação do Ensino Superior com as empresas incluir projetos encomendados pelas Forças Armadas portuguesas com alta exigência tecnológica de inovação, a geração de competências, de produtividade e de valor será muito relevante. Essa exigência contribuirá para fazer convergir regiões transfronteiriças e de montanha, como a da Guarda, com as zonas mais ricas da União Europeia.
Na exposição que fiz no Teatro Municipal da Guarda, concluí com duas notas: na primeira, sublinhei que o Exército é um cliente particularmente exigente e rigoroso para qualquer instituição de ensino superior, uma vez que tem, não só quadros de altíssimo valor académico (para além de militar), mas também alguns dos melhores laboratórios e centros de investigação que existem no país. Na segunda nota, deixei claro que o investimento em Defesa se faz, acima de tudo, para prevenir e evitar a guerra, ou para manter ou alcançar a paz!
Trabalhar para a paz desenvolvendo tecnologias de Defesa é uma boa chave para a coesão territorial portuguesa.
* Presidente do Politécnico da Guarda