Debates

Escrito por Albino Bárbara

“A prestação dos representantes dos partidos da democracia, defensores da liberdade, deveria ter sido outra e muito mais.”

Se o debate é definido como a discussão entre duas ou mais pessoas, colocando em confronto ideias que podem ser divergentes, o formato que nos foi apresentado deveria ter por finalidade o esclarecimento cabal dos temas que afetam a sociedade e as perguntas tornam-se inevitáveis:
Porquê este modelo? Porquê tantos debates? O porque de serem tão curtos? Ajudaram a aproximar os cidadãos da política?
Pois bem, a forma e conteúdo foi de um autêntico “reality-show”, trazendo ao de cima o mediatismo belicista, em que cada “round” do pugilato, da agressão verbal, empobreceu o confronto de ideias, não serviu o tempo político mas foi absolutamente indispensável para todas as pretensões do timing mediático.
Nessa espécie de ajuste de contas (em direto) tentou-se manietar o adversário retirando-lhe concentração em comentários, gafes, golpes e algum chico-espertismo que pouco ou nada contribui para a decisão do voto.
O mediatismo não ficou por aqui. Seguiu-se o comentário, horas a fio, onde os “espertos” da ou na matéria falaram da prestação dos candidatos e aí vem mais uma pergunta: Porque é que parte desse tempo não ficou para os políticos? Reconheça-se que 20 minutos (10 para cada lado) são efetivamente muito pouco e os protagonistas são indiscutivelmente eles, não são de certeza os comentadores.
Depois vem a terceira parte. O momento das redes sociais, onde é colocada a inevitável questão: Quem ganhou o debate? Aqui vêm ao de cima as armas consideradas indispensáveis, como sejam as frases bomba (algumas retiradas do contexto), onde alguns doutos comentadores se permitem dar notas (como se isto fosse a escola primária) colocando-se em bicos de pés, num papel superior de avaliação performativa, de um mediatismo publicista pago a peso de ouro. Claro está que não posso, nem devo, colocar todos os comentadores em pé de igualdade nem no mesmo prato da balança, mas permitam-me que também aqui dê conta da presença de alguns filhos da Ti Joquina e outros tantos filhos da raça humana.
A prestação dos representantes dos partidos da democracia, defensores da liberdade, deveria ter sido outra e muito mais. Deveriam ter contestado o ódio contra as minorias (que são isso, minorias?) mesmo em termos de gastos públicos. O alheamento da população em relação à política e aos políticos. A Cultura. Os dois milhões de pobres efetivos. A subida dos juros do Banco Central Europeu, o que faz com que, em 2022, o cantinho à beira mar plantado, com um PIB muito abaixo da média europeia, sinta um significativo aumento do custo de vida com salários e reformas que não vão aumentar. O risco do colapso da Segurança Social. A emigração jovem. A contestação sistemática e extremamente interesseira da maior conquista do 25 de Abril: o Serviço Nacional de Saúde. A redução significativa das PPP’s, as tais que devem existir sempre e tão só por exceção e nunca por regra, etc., etc., etc… Neste país onde alguns meninos bonitos do Príncipe Real quase se misturam nas insignificantes ideias do escarro que a democracia deixou parir, usando e abusando de frases e situações, quais lugar comuns que tanto gáudio fazem a saloios e saudosistas.
Os debates terminaram. “The show must go on”… Vem agora aí o “rating” que garante o “share” televisivo para que todos possamos fazer “zapping” das diversas sondagens diárias, algumas quase ao minuto, muito bem vendidas por empresas lucrativas, algumas delas ao serviço de interesses específicos e, claro está, de certas e determinadas forças políticas.
Está na estrada a campanha eleitoral. Vamos estar atentos, despertos e interessados à oferta do escaparate político, pois ao que parece podem aparecer por aí alguns travecas mascarados que, de falinhas mansas, escondem jogos extremamente perigosos.
Entre o trigo e o joio, abandonemos o jardim dos novos-ricos da velha coqueluche do centro da capital. Centremo-nos, isso sim, no País Real.
Se conseguirmos garantir o presente, o futuro das novas gerações ficará seguramente assegurado. O cantinho de nove séculos de existência prosseguirá a sua História e alguém irá agradecer-nos por isto.

Sobre o autor

Albino Bárbara

Leave a Reply