Uma parte significativa dos leitores desta coluna tem-me perguntado, “o que é que tens achado dos debates para as eleições, filho?”, o que me levou a quebrar uma promessa feita ontem, de nunca falar de política nas minhas crónicas.
Como o leitor mais atento poderá nunca ter reparado, eu gosto de isenção e clareza nas minhas análises. Até porque quando as análises são muito escuras, o organismo anda a funcionar mal. Sem tibiezas, sem medo de enfrentar qualquer censura, escrevo isto de forma directa chamando, como diz o povo, os bois pelos nomes: o sonso esteve bem contra o grunho, mas o grunho esteve melhor no debate com o duende. A bruxa perdeu-se em considerandos com o unicórnio e o burro claramente foi muito assertivo no frente-a-frente com o sonso. O duende defende que umas coisas sejam mais altas, o unicórnio pede que outras desçam. A bruxa e o grunho querem mais saúde, o sonso e o burro querem menos doenças. O idiota gosta de pessoas educadas e o palerma sonha com melhor educação. Todos querem impostos, quer os mais altos, quer os mais baixos (como debatem sentados, não é possível aferir a altura de cada um).
Quando se fala com um idiota é normal que o sonso pareça o grunho. Mas não estava à espera de ver o burro a dar coices à bruxa, enquanto elogiava de forma surpreendente algumas propostas do palerma. Claro que este palerma, armado em sonso, se atirou ao unicórnio, considerando-o outro idiota. A bruxa, que às vezes parece um duende, não confia no sonso porque acha que lá no fundo é um palerma. Já o duende, que tem a mania que é esperto, desconfia do grunho porque é burro e não aceita o palerma, porque é sonso.
Agora que está muito claro quais são as propostas de cada partido, é só esperar que no dia 30 esteja bom tempo para ir passear até ao mar.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia