Em reação à notícia de O INTERIOR, de 20 de dezembro, a Câmara da Guarda opõe-se à cedência da Pousada da Juventude ao Politécnico da Guarda. Surpreendido pela notícia, Álvaro Amaro não gostou e opôs-se. A sua oposição assenta em dois pressupostos: a Pousada faz falta à Guarda e há outro local indicado (a antiga residência feminina da Gulbenkian e atual CDOS, na Rua António Sérgio). A argumentação é assertiva e mereceu o respaldo da maioria e, espantosamente, também da oposição.
Os vereadores do PS na Câmara da Guarda, Eduardo Brito e Pedro Fonseca, não só concordaram com Álvaro Amaro, como também eles argumentaram contra a decisão do governo (PS) em nome de um suposto interesse superior: o da manutenção da Pousada de Juventude na Guarda.
A Pousada foi encerrada pelo governo de Passos Coelho em 2012 (numa decisão governamental em que foram encerradas, com a da Guarda, as Pousadas de Juventude de Vila Real, Setúbal, Leiria e Portalegre). Sete anos depois, com o complexo fechado e em deterioração e sem solução à vista (e à espera de uma decisão improvável da “Movijovem” que permita a reabertura), a secretaria de Estado do Ensino Superior vai entregá-la ao IPG para residência de estudantes e centro de apoio ao aluno. O Politécnico pretende ali instalar nomeadamente alguns dos estudantes estrangeiros (perto de 500) que frequentam aquele estabelecimento de ensino superior e que têm enfrentado grandes dificuldades para encontrar alojamento na cidade. Um problema que se vem agravando e para o qual esta solução parece excelente – no centro da cidade, próximo dos serviços sociais do IPG e da residência académica, que contribuirá para uma melhor vivência académica dos alunos, a qualificação da zona e a integração dos estudantes na cidade. A sugestão da antiga residência da Gulbenkian é aceitável e cumulativa dada a carência de alojamentos para estudantes, mas convém recordar que se situa no lado oposto da cidade (o IPG está a poente, enquanto a Rua António Sérgio é do lado nascente), que continua a não haver transportes públicos para o IPG e que se algum dia voltar a haver um plano para as pousadas de juventude que inclua a Guarda poderá ser encontrada outra localização (por exemplo na casa em ruínas frente à porta principal da Sé Catedral, que a autarquia vai adquirir para demolir integralmente para acomodação de um parque de estacionamento entre a Sé e o Solar Teles de Vasconcelos) – entretanto a Câmara da Guarda cedeu dois apartamentos no Rio Diz ao IPG para ali instalar alguns alunos, no edifício de habitação social, a cerca de cinco quilómetro do Politécnico. E, repito, não há transportes públicos entre o IPG e a cidade.
O presidente da Câmara da Guarda defendeu, ainda nos tempos de Passos Coelho, e com Miguel Macedo como ministro da Administração Interna, que a Pousada de Juventude encerrada recebesse a esquadra da Polícia de Segurança Pública. Então, o autarca defendia a cedência do antigo Governo Civil da Guarda (e onde funcionam os serviços da PSP) para instalar a sede da CIM Beiras e Serra da Estrela (entretanto instalada nos antigos Paços de Concelho na Praça Velha). Então, a defesa intransigente da Pousada de Juventude da Guarda não se registou. Durante sete anos o assunto foi sendo adiado. Durante sete anos nem os vereadores do PSD nem os do PS se lembraram que a Guarda merece uma pousada de juventude e que é «mais urgente ter uma pousada» do que alojar estudantes que calcorreiam as ruas da cidade à procura de dormitório. Sete anos depois faz sentido o presidente da Câmara e vereadores defenderem que na Guarda reabra uma pousada, mas se tal desiderato parece tão improvável e longínquo, pois que se requalifique o edifício, se dinamize o espaço (o presidente do IPG fala mesmo em espaço sempre aberto para os alunos se alojarem, estudarem e interagirem) e se coloque ao serviço da cidade, porque é preciso e faz falta.