De 1.056m para cima!

Escrito por Pedro Narciso

«Depois de investir milhares de euros na requalificação do melhor miradouro da cidade, a Torre de Menagem, alguém se decidiu pela profanação de um monumento nacional»

Numa altura em que a rapidez de propagação da pandemia no concelho segue a par da velocidade de Miguel Oliveira no Moto GP, temos de reconhecer que a estratégia de promoção e colocação da Guarda no mapa deu resultados. No radar de qualquer mapa de risco epidemiológico estamos mais vermelhos que a pele da comunidade inglesa após um mês na praia da Rocha. Acompanhando a tendência futebolística nacional, “Agora já é o tempo” de esverdear o concelho.

Quando há 821 anos, D. Sancho I se decidiu pela atribuição da carta de foral à Guarda, elevando-a à categoria de cidade, não estaria à espera de um clima tão escaldante em novembro. É que conseguir ficar sentado numa esplanada do centro da cidade, em manga curta, de máscara, a ouvir “All I want for Christmas is You”, além de parecer um episódio de uma nova temporada de “Twilight Zone”, prova que Donald Trump deveria ser agraciado com a medalha de mérito municipal pelo seu trabalho pró aquecimento global e, consequentemente, abrindo novos mundos aos potenciais povoadores de pés gelados!

Aquela que foi, por décadas, a imagem de marca da cidade é hoje meramente figurativa. Se já nem a temperatura nos confere vantagem competitiva na logística do armazenamento de vacinas da Pfizer sem congelador, continuamos cristalizados na estalactite demográfica e social. O confinamento não altera o panorama dos nossos fins de semana e as obras que se tornam pertinentes e relevantes são as ampliações de cemitérios.

É neste ambiente otimista que iremos elevar a autoestima municipal ao patamar cimeiro da Torre dos Ferreiros. Depois de investir milhares de euros na requalificação do melhor miradouro da cidade, a Torre de Menagem, alguém se decidiu pela profanação de um monumento nacional. É que, independentemente da sobriedade ou não do projeto, todos conhecemos bem os elevadores medievais do castelo de Óbidos, Almourol ou até da Torre de Belém. Bem conhecidos pela sua inexistência. Uma operação estética e funcional ao nível das luvas metálicas do guarda-roupa de Cristina Ferreira, caras e muito discutíveis. Estou até ansioso por ouvir as palavras embargadas da comissária europeia, Elisa Ferreira, quando se referir à aplicação de fundos europeus nesse grande multiplicador de riqueza que também é a ornamentação de rotundas!

Verdadeira prenda para a cidade foi o anúncio por parte da Câmara Municipal da aquisição da antiga casa da Legião. Um cancro urbanístico de elevada exposição na principal entrada do “ex-libris” municipal. Com o anúncio do cancelamento dos eventos “Cidade Natal” e Passagem de Ano, com mais dois anos de pandemia e ainda nos arriscamos a, finalmente, recuperar o Hotel Turismo e todos os pavilhões do antigo Sanatório.

É então com o F de Fria em risco e com a economia suspensa que comemoraremos mais um aniversário. Longe dos zero graus, num filme encomendado, onde a espécie mais adaptada ao meio tem em comum o Cunha, como nome do meio. Na falta da “Bazuca” niveladora resta-nos esperar que a profecia de Iran Costa, “É o bicho, é o bicho, Vou te devorar, Covid eu sou…”, não se concretize.

Sobre o autor

Pedro Narciso

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