Dar a mão e dialogar

«Pedro Sanchez escolheu a moderação e estendeu a mão para o diálogo dando-nos a todos uma lição de como se deve evitar o radicalismo e o conflito, a guerra e o ódio»

Num tempo em que a desintegração do Reino de Espanha dominava a política espanhola dos últimos anos, o presidente do governo, Pedro Sanchez, foi a Barcelona apresentar um plano para um novo regime de entendimento no quadro constitucional e anunciar os indultos aos presos independentistas catalães. Evidentemente, o anúncio não podia deixar de dividir os espanhóis. E evidentemente manteve a contestação na Catalunha.
A maioria dos espanhóis, ou pelo menos os de direita, não aceitam qualquer tipo de concessão à causa independentista catalã e querem os independentistas na prisão. A direita continua refém da decisão de Mariano Rajoy de impor a legalidade a tiros, ou seja, manter a unidade do país pela força. Enquanto os independentistas exigem o reconhecimento da autodeterminação catalã e a amnistia daqueles que unilateralmente promoveram o processo independentista.
O assunto é político e é politicamente que tem de ser resolvido.
Não pela força das armas, nem pela prisão dos que defendem a independência. Por isso, o gesto de Pedro Sanchez é uma escolha difícil, mas a única que pode levar à moderação e a um compromisso de pacificação das partes. Os nacionalismos na Europa têm crescido e em Espanha são uma realidade divisionista e separatista que só pode ser travada pelo diálogo, a integração e a convivência.
Nos últimos anos, com políticas centralistas de Madrid, o independentismo tem crescido e se há 30 anos os partidos divisionistas tinham pouco mais de 30 por cento dos votos em eleições, hoje cerca de 50 por cento dos catalães votam pela separação de Espanha. Isto comprova que o caminho percorrido tem sido errado. E que promoveu a rutura e o extremismo como resposta à falta de respostas às necessidades e exigências dos catalães.
Espanha é o resultado da unificação promovida pelos reis católicos no final do séc. XV. A agregação de diferentes “nações” e territórios da Península Hispânica, de que Portugal fez parte de 1580 a 1640, levou “as Espanhas” a tornarem-se na primeira e maior potência mundial do início da Era Moderna. Esse enorme sucesso castelhano foi mantido pela força, mas também, ou sobretudo, pela argúcia, sagacidade e subtileza dos reis que uniram as diferenças que nos últimos anos voltaram a ser postas em evidência.
A integração europeia é a melhor prova do sucesso da união política contra as derivas nacionalistas ou regionalistas. O anterior governo espanhol falhou ao não saber dar resposta no quadro constitucional às exigências nacionais ou regionais e falhou ao querer impor pela força uma Espanha estilhaçada. E os independentistas catalães falharam ao procurar unilateralmente, sem medir os riscos para a sociedade, convencidos que eram uma opção maioritária, de forma belicista e sem considerarem os obstáculos e riscos desse caminho. Pelo meio, e sendo contestados por toda a direita espanhola e pelos separatistas catalães, Pedro Sanchez escolheu a moderação e estendeu a mão para o diálogo dando-nos a todos uma lição de como se deve evitar o radicalismo e o conflito, a guerra e o ódio. Os indultos para os separatistas catalães podem não ter o sucesso desejado, mas estimulam a moderação e dão uma oportunidade ao diálogo. E ensinam-nos que perante a adversidade, a intransigência, o extremismo, deve haver gestos de concórdia e diálogo – que são sempre os mais difíceis. Num momento em que a Democracia espanhola vive em constante conflito, em divergências profundas, Sanchez voltou a revelar-se.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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