A vulgarização da ideia que em política vale tudo e que a política paira, qual céu azul, acima das nossas cabeças, para o bem e para o mal, para a honra e a desonra, para a verdade ou para a mentira, é cada vez mais um lugar comum.
A recente eleição da Assembleia da República consolidou este conceito que, aos poucos, vai permitindo servir interesses inconfessáveis de uma qualquer senhora ou senhor de bem.
O partido do poder tem contribuído, incentivando, a política de prostituição do Estado em que os crimes de convicção são esquecidos e os novos crimes de oportunidade visivelmente aceites, onde marcam presença alguns mercenários que, sem optarem pela Dostoievskiana moralidade, pretendem continuar a vida política após delito.
Num discurso de cumplicidade que mete dó, onde se defendiam pretensos adversários e a possibilidade do comentário durar anos a fio, assume-se agora postura inconfessável, que no revés da medalha traz associadas posições de um cinismo sem limites com o altruísta conceito da defesa do bem e interesse público.
Imagino a angústia de certos jornalistas, que, de olhos em bico, ficam colocados entre o seguidismo recente e a presença futura dos tais comentadores agora elevados à categoria de políticos efetivos da situação. Seguramente este é, sem dúvida, o resultado que intrigará muito boa gente, quiçá os menos familiarizados com este tipo de estratégias, antes defensores laranjas e hoje mesmo, naquele rasgo de génio, tiram da cartola o cartão rosado, já meio bolorento, que os irá catapultar para outos e novos voos. É bem verdade que rei morto, rei posto… E, tudo isto, com o beneplácito régio do poder, porque provavelmente quer unir pontas e vai dar jeito para a futura eleição autárquica. Valha-nos a Carmo e também o Trindade.
E se a fórmula aplicada anteriormente era família, mais família e família, esta agora é visivelmente paradoxal, pois promove convictos defensores laranjas a azafamados “apparatchiks” rosados, deixando transparecer que o crime sempre compensa.
Afinal, a teoria do tanto pior melhor resulta. Pelo menos para alguns…