Cansados de tanto Covid-19, tanta entrevista, nos últimos dias foi crescendo uma polémica sobre as comemorações do 25 de Abril. As redes sociais ajudaram, e muito, ao aproveitamento político. A preocupação com a saúde pública foi um dos pretextos contra a cerimónia na Assembleia da República.
Na AR, contra a evocação do 25 de Abril, só dois pequenos partidos, mais por tática que por estratégia. A Assembleia da República é muito mais que um conjunto de pessoas e respetivas instalações; é um órgão de soberania e não tem horário de funcionamento; é a casa da democracia, a sede da representação popular tal como consagra a Constituição de 1976 e por isso durante este longo mês de emergência nunca deixou de reunir e votar. Seria mesmo irónico que a Assembleia da República encerrasse as suas portas precisamente à evocação do Dia da Liberdade, o 25 de Abril que lhe deu o nome que ostenta.
A essas forças políticas pouco interessava se havia ou não comemorações, se havia muitos ou poucos assistentes, ou se estava em causa a saúde pública, a igualdade perante a emergência em vigor. O que pretendiam era a confusão, criar um precedente útil à sua estratégia: diminuir o número de deputados. Não como fim em si mesmo, mas como arma de arremesso político na conquista do poder. No discurso extremista e populista de uma certa direita os fins justificam os meios.
Por tudo isto também nunca como agora fez tanto sentido a um cidadão português lembrar os valores de Abril. A liberdade defende-se todos os dias! À medida que a Primavera avança e se vão notando os sinais de controlo do coronavírus começa a generalizar-se a ideia de que o SNS, os seus profissionais, as autoridades de saúde, o Governo e a generalidade dos autarcas, responderam bem ao surto epidémico, em comparação factual com a realidade de outros países europeus bem mais poderosos e ricos.
Também na Guarda e distrito isso acontece. Temos de ser justos com os nossos “heróis da saúde”: temos do melhor que há no país e um pouco mais de autoestima não fará nada mal. Fomos desde a primeira hora um hospital Covid-19 e os resultados que apresentamos pedem meças a outros hospitais com mais títulos e mordomias.
E esse esforço de todos na ULS Guarda não pode ser ignorado. Nada será como dantes para o bem e para o mal. Também no Hospital Sousa Martins, espero eu.
Os nossos idosos foram os alvos preferidos no ataque traiçoeiro do vírus que nos atormenta. Eles, os que mais deram e menos receberam desta Pátria tantas vezes injusta para os seus melhores. Há os que estão doentes e incapacitados, em lares e IPSS, mas há muitos que estão bem e com saúde a viver em suas casas ou com a família.
Não é admissível criar um gueto legal para quem tem mais de 70 anos. As pessoas em causa sabem assumir os seus riscos, muitos trabalham ainda, querem passear, querem viver. Logo eles que são verdadeiramente a geração que deu força a todas as utopias de Abril… Aos sonhos… À realidade!
* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda e ex-Governador Civil da Guarda