Contra as provas finais do 9º ano e os exames nacionais do 11º e 12º – uma reflexão necessária

Escrito por José Vaz

As provas finais do 9º ano e os exames nacionais do ensino secundário têm sido, ao longo dos anos, apresentados como instrumentos essenciais para avaliar o desempenho dos alunos e garantir a “qualidade” do sistema educativo. No entanto, esta visão ignora as profundas desigualdades sociais, a pressão psicológica imposta aos estudantes e a limitação do verdadeiro sentido da educação.
Antes de mais, importa questionar:
– O que mede realmente uma prova final?
– Será que uma avaliação feita num único dia, sob forte stress, consegue refletir com justiça o percurso de um aluno ao longo de vários anos?
A resposta é não.
Estas provas ignoram o contexto socioeconómico dos alunos, as suas dificuldades específicas, os diferentes ritmos de aprendizagem e as múltiplas formas de inteligência. O sistema, ao impor uma avaliação padronizada, trata todos como se tivessem tido as mesmas oportunidades, o que está longe de ser verdade.
Além disso, estas provas promovem uma cultura de ensino voltada para os exames, e não para o conhecimento. As escolas tornam-se fábricas de preparação para testes, os professores veem-se forçados a seguir programas rígidos, e os alunos são ensinados a decorar fórmulas e estratégias de resposta em vez de pensar criticamente, refletir e compreender.
A educação perde assim a sua dimensão mais humana e transformadora.
Outro aspeto inegável é o impacto psicológico negativo. O stress, a ansiedade e o medo do fracasso tornam-se companheiros constantes de milhares de jovens, muitas vezes desde os 13 ou 14 anos. A pressão dos exames condiciona o bem-estar e, em muitos casos, deixa marcas que perduram. A saúde mental dos estudantes deveria ser uma prioridade, mas é sistematicamente ignorada em nome de uma pretensa medida a partir de números e médias.
Por fim, é importante destacar que a existência destas provas nacionais reduz a autonomia das escolas e desvaloriza a avaliação contínua e formativa, que deveria ser central no processo educativo. Os professores, que conhecem verdadeiramente os seus alunos, veem o seu papel reduzido a meros executores de um sistema injusto e desajustado da realidade.
É urgente repensar a avaliação em Portugal.
Avaliar não pode ser sinónimo de selecionar ou excluir.
A escola deve ser um espaço de inclusão, de aprendizagem significativa, de desenvolvimento pessoal e coletivo.
Por isso, direi:
– Não às provas finais do 9.º ano e aos exames nacionais tal como hoje existem. Em vez de manter um modelo que reproduz desigualdades, devíamos investir em formas de avaliação mais humanas, justas e coerentes com uma educação democrática e emancipadora.

* Professor e diretor do Agrupamento e Escolas de Pinhel

Sobre o autor

José Vaz

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