Chama-se Veldhoven, tem cerca de 45.000 habitantes e está geograficamente situado a sudoeste de Eindhoven. Dista 101 km do ponto de mar mais próximo, o que para os padrões holandeses significa estar no interior. Tem ainda a particularidade de contar com uma fronteira internacional a 30 kms, neste caso a belga. Possui Invernos frios, embora as temperaturas poucas vezes desçam abaixo dos 0 graus. Do ponto de vista monumental, um dos principais ex-libris da cidade é uma construção de âmbito religioso denominada “Sint-Willibrorduskerk”. Conta ainda com um hospital, o “Máxima Medisch Centrum”, que serve uma população de 170.000 utentes sendo um dos principais empregadores da localidade. Até aos anos 70 do século passado a área agrícola desempenhava um papel muito importante na economia da região.
Atendendo a estas características, podemos quase inferir que se trata de uma “Guarda” holandesa, mas, infelizmente, as semelhanças param por aqui.
Hoje, só no centro da cidade coexistem 113 lojas de famosas marcas internacionais, representando uma enorme diversidade de sectores de actividade.
Relativamente à segurança, Veldhoven apresenta um índice de 90,81 contra 85,00 da Guarda (e lembremo-nos que a nossa cidade é uma das mais seguras do país). Atendendo agora ao salário médio, na Guarda ronda os 1.205€ ao passo que em Veldhoven ascende a 3.554€, quase três vezes mais. De um modo geral, numa escala de 0 a 100, a localidade holandesa possui um índice de qualidade de vida de 74, ao passo que a congénere portuguesa ascende apenas a 57. Poderia aqui apresentar muitos mais indicadores, mas julgo que está demonstrada a tendência.
Mas então, o que aconteceu nessa pequena localidade que a leva a ter indicadores tão positivos em tantas vertentes?
Em 1984, fruto de um empreendimento conjunto entre a “Philips” e a “ASM International” nasce a “ASML”, actualmente o maior fornecedor de sistemas de litografia para a indústria de semi-condutores, desenvolvendo e construindo máquinas para a produção de circuitos integrados. A partir de 2022, torna-se o maior fornecedor para a indústria de semicondutores e o único fornecedor no mundo de máquinas de fotolitografia de ultravioleta extremo, utilizadas para fabricar os “chips” mais avançados. Nos seus quadros de pessoal conta com mais 14.000 colaboradores, a maioria altamente especializada, muitos deles residindo na própria localidade.
De forma sucinta, a exposição anterior traduz um exemplo daquilo em que a Guarda se deveria tornar: uma cidade de pequena/média dimensão, com um excelente nível e qualidade de vida, alavancada em indústrias inovadoras de conhecimento intensivo.
Por certo, os actuais e anteriores decisores políticos de Veldhoven estariam muito mais preocupados em captar empresas e serviços de suporte às mesmas, em vez de promoverem o “Rally das Tascas” ou o “Campeonato do Penálti de Tinto”. Por ventura teriam pedido empréstimos, mas estes foram canalizados para o investimento em infraestruturas produtivas e não em despesas de índole supérfluo ou de atribuição discricionária.
Certamente há muitas localidades portuguesas que merecem uma visita, mas se queremos aprender com quem faz mesmo bem, uma “viagenzinha” a Veldhoven não faria nada mal…
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos