Comboios, digital e transição energética

Escrito por Acácio Pereira

Participamos todos em duas mudanças que estão a alterar de forma estrutural a nossa vida: a Transformação Digital e a Transição Energética. E é lamentável que à Guarda, por degradação dos serviços públicos, sejam colocadas tantas dificuldades para integrar uma e outra. É o caso do transporte ferroviário, um dos mais eficientes e ecológicos para levar e trazer pessoas de grandes centros emissores-recetores de tráfego, como Lisboa em Portugal.
A Transição Energética será indispensável para mantermos o planeta sustentável. O assunto está no topo da agenda política e, como se verificou nas eleições para o Parlamento Europeu, há uma “onda verde” a atravessar a Europa, incluindo-se Portugal neste movimento de fundo. O Governo português foi, aliás, o primeiro do mundo a aprovar um roteiro para que o país seja, em 2050, neutro em emissões de CO2 e de outros gases. Este é um desígnio que só poderá ser alcançado se todos os setores fizerem a sua parte, nomeadamente o dos transportes.
A Transformação Digital, por seu lado, estrutura a era tecnológica em que vivemos. É hoje impensável viver sem computadores, telemóveis e tablets. Tal como é impensável um mundo sem transportes: a possibilidade de viajarmos rapidamente, nomeadamente de avião, para qualquer parte do país ou do mundo, faz parte da cidadania contemporânea.
Neste contexto, o serviço ferroviário que serve a cidade e a região da Guarda está ao arrepio dos tempos. Nem tem qualidade, nem respeita o direito de cidadania ao transporte em tempo útil. E, por isso, incentiva ao uso do transporte individual e à emissão de gases poluentes.
É impossível ir da Guarda a Lisboa de comboio para tratar um assunto profissional e voltar no mesmo dia. O primeiro comboio a sair de manhã da Guarda chega a Lisboa às 11:22 (por regra, com mais de meia hora de atraso). E o último a sair de Lisboa parte às 18:07. É evidente que os utentes que são servidos pela linha da Beira Alta para ir trabalhar em Lisboa necessitam de dois dias.
Sendo o país o que é – centralizado, macrocéfalo – a presença regular em Lisboa é indispensável a um número imenso de atividades e responsabilidades. E, neste contexto, aos cidadãos da Guarda está vedado fazê-lo de comboio (e de autocarro, já agora).
Nem podem ir e vir a Lisboa no mesmo dia, nem o podem fazer aproveitando o tempo da viagem para trabalhar no portátil com o mínimo de condições. Têm de ir a guiar e a queimar combustível. Na Guarda, a Transformação Digital e a Transição Energética ainda estão distantes.

* Dirigente sindical

Sobre o autor

Acácio Pereira

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