“Com a casa às costas”

“A municipalização do país é um erro e a possibilidade de os professores virem a estar na dependência das autarquias é inadmissível. “

1- A sequência de greves de professores vai fazendo o seu caminho no protesto e na reivindicação de melhores condições. A retoma das negociações, que o Ministério da Educação suspendeu em novembro, já não tranquiliza a revolta relativamente à revisão das regras de concursos e colocações, ou a qualquer outra das matérias que carecem de resposta e que os professores consideram determinantes para a paz voltar às escolas. Depois do distrito de Castelo Branco, os professores da Guarda deverão também mostrar a sua posição na manifestação agendada dia 27 de janeiro. O ministro da Educação, que teve tempo para parar esta guerra, está finalmente a perceber que não basta fazer algumas concessões, tem de dar respostas e garantias sobre as exigências dos professores.
A municipalização do país é um erro e a possibilidade de os professores virem a estar na dependência das autarquias é inadmissível. As colocações nacionais são uma vergonha, deviam ser regionais (ninguém pode ser um bom profissional se passa a vida com “a casa às costas”). A precariedade é ofensiva. A desburocratização é determinante para o recuperar da atividade pedagógica e a construção da escola – como escreveu no “Público” Carmen Garcia, «a escola é muito mais do que um edifício ou do que um lugar onde as crianças aprendem a ler e a escrever. A escola são pessoas que ajudam a construir outras pessoas» – e, por isso mesmo, os professores têm de ser respeitados e têm de recuperar aquela liberdade que lhes permite estimular a liberdade de pensamento, a consciência cívica e democrática que precisamos.
Continuar a encurralar os professores entre a burocracia, o controlo administrativo e a destruição do brio profissional é matar a escola, é diminuir as futuras gerações, é aniquilar a liberdade de pensar. Ainda vamos a tempo de levar paz e conforto à escola em nome do futuro.
2- Encerrado há uma dúzia de anos, o Hotel Turismo da Guarda deverá ser uma Pousada de Portugal, como recentemente ficámos a saber através do deputado socialista António Monteirinho. Mas faltava a confirmação oficial… Sexta-feira, o caminho para a reabilitação do Hotel Turismo foi apresentado pelo ministro da Economia, António Costa Silva, pela ministra do Trabalho e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, pelo Turismo de Portugal e pela Enatur. E se tudo correr bem, ficou a promessa de que o Hotel reabre em 2025. Os argumentos invocados foram de cariz económico, de aposta no desenvolvimento turístico na Guarda e região, mas também políticos. Como salientou Ana Mendes Godinho, este era um desígnio para os guardenses, cuja reabertura foi prometida pelo Partido Socialista em campanha. E o PS não deixará de repetir até à exaustão que esta será uma promessa cumprida. E que mais ninguém poderá retirar dividendos políticos, porque mais ninguém teve a ver com a solução encontrada – sem pejos, Ana Mendes Godinho deixou-o bem claro na sessão de apresentação do compromisso na Câmara Municipal da Guarda excluindo intencionalmente Sérgio Costa do caminho feito.
3 – Trinta anos depois, o jornal “Terras da Beira” chegou a semana passada pela última vez às bancas. Como escreveu o Diretor do semanário, Virgílio Arderius, «o Estado há muito que acabou com o porte pago e a própria publicidade institucional não chega aos mais frágeis». Sem apoios, sem empresas que invistam em publicidade, com menos assinantes, os jornais locais e regionais têm cada vez mais dificuldades em resistir – os jornais têm leitores, mas os custos são cada vez mais e as receitas cada vez menos. O “Deserto de notícias” será cada vez mais uma triste realidade. O “Terras da Beira” não resistiu às dificuldades e acabou. Lamento que o jornal desapareça das bancas, pois a sociedade moderna, a democracia e as liberdades precisam de jornais. E lamento este desfecho, consequência da falta de apoios públicos à imprensa, até porque o “Terras da Beira” também foi o meu jornal, um jornal onde escrevi nos anos noventa.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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