As medidas tomadas para minorar os efeitos da pandemia de Covid-19 vão criar despesa, a pagar pelo Orçamento Geral do Estado, despesa que vai ser financiada com dívida e essa depois com impostos. Estes impostos vão ser pagos por todos aqueles que em geral os pagam, incluindo advogados e empresários, que não beneficiam de qualquer compensação por terem a atividade total ou parcialmente parada. Antes pelo contrário, pagam indiretamente as compensações de que beneficiam os trabalhadores por conta de outrem.
Os lares de terceira idade são dos sítios mais sensíveis que há e que merecem mais atenção. A população, que é de grande risco (há lares em que a média de idades é superior a 90 anos), necessita de cuidados constantes, com ou sem Covid. Os cuidadores entram e saem do edifício e quebram qualquer isolamento profilático que proteja os idosos. Todos os dias chegam abastecimentos e entram pessoas indispensáveis ao funcionamento dessas instituições: para além dos funcionários, podem entrar médicos, enfermeiros, os mais variados prestadores de serviços. A entrada deles pode trazer o coronavírus, mas a sua falta pode provocar o caos. Indispensáveis, ou também indispensáveis, são os auxiliares, ajudantes, as pessoas que todos os dias tratam dos idosos: os lavam, vestem, lhes dão os medicamentos, alimentam, deitam. No entanto, a solução que as instituições têm encontrado, com duas semanas de trabalho a doze horas por dia e outras duas semanas de dispensa do trabalho, para isolamento profilático dos funcionários, tem esbarrado em objeções de sindicatos, apoiados na lei, e funcionários: estes têm família e direitos; ganham mal, pouco mais do que o salário mínimo e nunca o suficiente para justificar os riscos que correm, têm um trabalho duríssimo. Tudo certo, dirão todos, mas, pergunto eu, em primeiro lugar não estará o direito à vida dos idosos?
As medidas para atenuar os efeitos da pandemia têm-se sucedido em catadupa. Umas a corrigir outras, outras a reboque do tema do momento. Uma das tendências é a de fechar fronteiras e obrigar a quarentena quem vem de fora, nem que estejam de regresso a casa, pareçam saudáveis e deem todas as garantias de que não tiveram comportamentos de risco. Os motoristas do transporte internacional, quando regressam do estrangeiro para algum concelho em que isso tenha sido determinado, como por exemplo o concelho da Guarda, são obrigados a ficar duas semanas em isolamento profilático, sob pena de cometerem o crime de desobediência. Muitos, incluindo os próprios motoristas, interpretam esta obrigação como uma proibição de regressarem ao estrangeiro para mais uma viagem. Se assim for, entrará rapidamente em colapso a cadeia de abastecimentos que mantém o pais a funcionar. É urgente uma clarificação, ou uma solução para o problema. Enviei um email à Delegada de Saúde a pedir informação sobre este problema e até agora não recebi resposta.
Termino com a constatação de que a pandemia parece estar a abrandar em Portugal, embora a percentagem de mortes relativamente aos casos encerrados (com cura ou morte) pareça absurdamente elevada, aqui e em toda a parte. Outra constatação: os alemães e os holandeses não querem, nem por nada, nesta ou noutra emergência, ser nossos fiadores.