1- Depauperado, o Estado português quer viver em estado burguês. Desapossado de ativos estratégicos ou meios capazes de regular a atividade económica e social, o Estado quer centrar a sua atuação nas áreas de soberania e em sectores essenciais como a saúde ou a educação. Mas não está a fazer um bom trabalho.
Com o sistema nacional de saúde em estado de rutura, os legisladores do Estado discutem uma nova lei de bases. A principal característica desta, ou de qualquer outra lei de bases, é que pouco ou nenhum efeito prático tem. Define princípios gerais com tanta aplicabilidade quanto a intenção de “abrir caminho para uma sociedade socialista” até hoje inscrita no preâmbulo da Constituição portuguesa.
Na defesa de maior ou menor pendor para as iniciativas privada e social, com mais ou menos vontade de recuperar os predicados conferidos por António Arnaut ao SNS, a classe política enredou-se numa discussão que esquece o essencial do problema: como resolver o crónico subfinanciamento do SNS.
Com as políticas de sentido oposto seguidas nas últimas legislaturas, a educação agravou uma crise de identidade que dura há largos anos. Depois de inúmeras tentativas de discussão entre duas partes que só se aproximam na incapacidade de dialogar, Governo e professores esquecem os alunos. Pelo meio, há um ministro da Educação desaparecido em combate e uma secretária de Estado que já parece ter assumido o Ministério que lhe está destinado para depois das eleições.
2- Com os transportes públicos a funcionar sem rei nem roque, ninguém sabe quando é a próxima greve, a que horas partem ou chegam os comboios nem se a viagem será feita com calor abrasador ou frio gélido. Neste estado de sítio, vem um ministro anunciar que a viagem Lisboa-Porto será feita em duas horas. Sem TGV! Para animar ou, pelo menos, sossegar os portugueses, bastaria a Pedro Marques garantir que haverá comboios condignos, funcionários da CP e ferrovia em condições para que essa viagem se faça, mesmo que em três horas.
Portugal está longe de ser um Estado falhado como definido pelas Relações Internacionais. Mas olhando para casos como os incêndios, Tancos, helicóptero do INEM, desertificação… vê-se um Estado a caminho da exiguidade.