Há cinco anos o país foi informado de que Pedro Passos Coelho tinha interrompido, por alguns momentos, as férias que estava a passar com a família em Manta Rota, no Algarve, para falar aos jornalistas sobre a decisão do Banco de Portugal, que anunciava nesse domingo, 4 de agosto de 2014, um plano de capitalização do BES de 4.900 milhões de euros. Ficámos também a saber que seria efetuada a separação entre ativos tóxicos e os restantes, ficando os não-tóxicos numa nova instituição, o Novo Banco.
Recordo as palavras de Passos Coelho: «O que é essencial, hoje, é passar uma mensagem de tranquilidade quanto à solução que foi adotada. Ela respeita o quadro legal e, portanto, o Governo não deixou de a apoiar. E, em segundo lugar, é aquela que oferece, seguramente, maiores garantias de que os contribuintes portugueses não serão chamados a suportar as perdas que, neste caso, respeitam pelo menos a má gestão que foi exercida pelo BES».
Passos Coelho, enquanto primeiro-ministro, frisou ainda que «o que no passado tivemos e que não deveria voltar a repetir-se e não vai voltar a repetir-se, é serem os contribuintes a serem chamados à responsabilidade por problemas que não foram criados por eles, por isso é natural que sejam os acionistas e a dívida subordinada, nos termos da nova legislação, a responsabilizarem-se pelas perdas que venham a ocorrer».
Passos Coelho remetia para a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, mais esclarecimentos sobre um eventual impacto negativo no défice da futura venda do Novo Banco, para o qual o primeiro-ministro acreditava haver interessados. E passados cinco anos eis que é anunciado um prejuízo de 400 milhões de euros no primeiro semestre. Contrariamente ao que foi prometido, quer pelo Presidente da República, Cavaco Silva, quer pelo primeiro-ministro, Passos Coelho, quer ainda pelo governador do Banco de Portugal, os contribuintes continuam e vão continuar a pagar as imparidades do BES. Os contribuintes portugueses já participaram neste peditório com mais de 5.000 milhões de euros.
De pouco consolo nos serve que António Costa tenha dito que «nem um euro» público será gasto no Novo Banco, já que o dinheiro que o Estado está a emprestar ao Fundo de Resolução para recapitalizar o banco será pago por este em 30 anos.
Trinta anos? Quantos de nós terão oportunidade de ver recuperado todo o dinheiro até agora injetado no Novo Banco? Quantos? O dinheiro «emprestado» pelos contribuintes portugueses, que tem servido para lavar a cara e mais qualquer coisa à máfia que nos governa há décadas, podia e deveria estar a ser aplicado na melhoria dos serviços públicos da saúde, educação, transportes, justiça e tantos outros.
Mais trágico é que quem apoiou declaradamente tais decisões ao aprovar os quatro Orçamentos de Estado do governo do PS, acredite que consegue convencer-nos de que não havia alternativa a este passa-culpas para nós, o povo!
De facto, na vida há momentos de tudo ou nada, e já todos percebemos que este foi um deles. Os grandes momentos da história não se fizeram com vulgaridades, mas sim com ruturas e mergulhos de cabeça. Deve ser por isso que se diz que dos fracos não reza a história, e nesta história o único forte é aquele que levou consigo a massa…
Neste contexto, os partidos que nos desgovernaram ou pactuaram com medidas gravosas para todos não têm legitimidade para virem falar em baixa de impostos na próxima legislatura. É que a vergonha pode não ser muita. Ou, como alguém disse, pode até nem ser vergonha. Hoje, como ontem, importa que os cidadãos, na verdadeira aceção de cidadania, não sejam cúmplices com a indiferença e contribuir para o progresso da decadência a todos os níveis. É que quer o queiram, quer não, a isto também se chama corrupção!