Claustrofóbico

Escrito por Diogo Cabrita

“Não me entusiasma teatros à cunha, salas cheias de gente entre mim e a saída.”

Não era, mas fiquei. Não sei porque me apareceu isso. Não me entusiasma teatros à cunha, salas cheias de gente entre mim e a saída. Entrar num espaço confinado sem janelas condiciona-me, impede-me de estar confortável. Preciso ver uma racha na parede por onde passa o ar, de onde vem uma luz. Não sou dos que se desconstrói, dos que se agita, dos que pedem auxílio, mas o peito fecha-se, a sensação de desconforto agiganta-se e fecho os olhos, respiro fundo e espero que o suplício apague, se abra a porta, me deixem sair tranquilo para o ar livre. A claustrofobia é uma sensação que implica nalguns um espaço curto, noutros pode ser um espaço enorme, desde que esteja fechado e tenha teto. É uma doença para a qual não temos um marcador, um recetor conhecido, uma definição de causa absoluta. Para mim é uma formulação do encarceramento, a sensação tremenda de estar limitado, atado. Um lugar fechado onde se pode asfixiar, sem que o seja, sem que as paredes contraiam, mas é como se o fizessem. A clausura obrigada, o fechar o horizonte e remover a liberdade estão contidos na sensação de claustrofobia e por essa razão não vale a pena contrariar quem a sente. Não querem ir no submarino, não gostam de grutas, não se apaixonam por aviões, gostam das janelas escancaradas, precisam das varandas, recusam elevadores e com frequência não conseguem entrar num aparelho circular mesmo que seja para fazer exames médicos. Sou de um grau menos intenso, faço isto tudo, mas detesto elevadores pequenos sem janelas. Descobri esta sensação num elevador que avariou numa obra ao sol. Fiquei lá dentro uns dez minutos e o calor crescia e o desconforto também. Depois, na Arábia Saudita, vivi num apartamento com todas as janelas com taipais. Era um absoluto sufoco. Comprei uns enormes cartazes de florestas no Ikea e a sala ganhou alegria. Uma realidade adaptada. Mas porque não retirei os taipais e abri as janelas? Porque não se pode – é um meio de não observarmos os outros e um mecanismo protetor das tempestades de areia. Na Arábia Saudita é essencial impedir a curiosidade, o espreitar dos vizinhos, a observação do que fazem outras pessoas. É uma sociedade de biombos, de cortinas, de taipais, de caras encobertas. Retirar o taipal que não deixa ver da janela é proibido! Limites estranhos da liberdade há muitos, parece-me que estão a aumentar!

Sobre o autor

Diogo Cabrita

Leave a Reply