Ciências da Educação, Universidade e Sociedade: rutura ou mudança?

Escrito por Jornal O INTERIOR

Segundo António Nóvoa, um dos mais prestigiados pensadores dos assuntos da Educação em Portugal, atualmente, colocam-se vários dilemas aos investigadores das Ciências da Educação, sobretudo, quando se confrontam com a objetividade do ensino e da investigação, como contribuintes essenciais para a credibilidade e a validade do conhecimento produzido no meio académico.
A resposta a este paradigma depende de uma nova abordagem entre as instituições de ensino, que deverá assumir características colaborativas, abandonando uma certa lógica defensiva e cooperativista, que impede o avanço substancial e dinâmico do conhecimento ao serviço da Educação.
Porém, o sistema educativo e as próprias universidades passaram a ser objeto de uma crescente demanda, por parte do mundo empresarial, para a produção massiva de indivíduos capazes de integrar um mercado de trabalho cada vez mais exigente, competitivo e no qual os valores humanistas desvanecem-se em princípios ultraneoliberais, pelos quais os fins justificam os meios, ou seja, o lucro imediato.
Apesar da Escola, entendida como um todo, não ser uma fábrica de transmissão instantânea de conhecimento a “autómatos”, António Nóvoa vem alertando para a perda eminente da liberdade das instituições educativas, se não conseguirem posicionar-se num patamar, no qual a preocupação em interligar a formação académica prestada aos seus alunos, com a pertinência e a utilidade da investigação científica, de forma a que o conhecimento produza mudanças numa sociedade em crescimento tecnológico acelerado.
Numa perspetiva mais abrangente, a renovação científica exige a criação de espaços coletivos de diálogo, de debate de ideias, de erradicação do isolamento perpetuado pela especialização das diferentes disciplinas do Saber, passando por uma interação interdisciplinar dinâmica, simultânea e de cooperação, resultando dessa aliança, novas abordagens sobre a complexidade dos temas e dos objetos de estudo, que em certos domínios, poderão determinar a nossa própria continuidade, enquanto espécie humana, dada a gravidade dos desafios extremos a que todas as (Ciências) têm de responder rapidamente.
A busca incessante pela originalidade, ignorando o conhecimento pré-existente, conduz, frequentemente, o mundo académico a uma acumulação de investigação e reforça a ideia da incapacidade dos investigadores em promoverem um idealismo compatível com a projeção de um espaço diversificado de pensamento, apenas credível, se for alicerçado na autenticidade de uma comunidade científica interpares.
Por outro lado, a utilização dos resultados dos processos de investigação em Educação, devem suscitar formas criativas de comunicação com a sociedade, despoletando atitudes de questionamento, de crítica reflexiva sobre a apropriação do conhecimento e do seu impacto na transformação do modelo civilizacional vigente, menorizando o imediatismo e a “visibilidade folclórica” do reconhecimento público, que muitos investigadores anseiam desesperadamente.
Em suma, António Nóvoa conduz-nos a uma reflexão sobre a importância da unificação multidisciplinar das diferentes teorias, metodologias e correntes de investigação em Ciências da Educação, de modo a evitar a fragmentação do conhecimento, sobre o qual a Universidade deve assumir uma função de pluralidade e de equidade no acesso ao mesmo por todos os cidadãos.

António José Alves Oliveira,
Castelo Branco

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Jornal O INTERIOR

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