Elsa, Montanha Mágica? Sabes, lembro, assim de repente, “Magic Mountain”, de Thomas Mann.
Sim Ana, e bem. Mann iniciou a escrita de “A montanha mágica” em 1912, o mesmo ano em que sua mulher Katharina Mann foi internada num sanatório em Davos, nos Alpes suíços, para iniciar o tratamento de uma tuberculose. O livro foi inspirado nesse episódio e é um dos romances mais influentes da literatura mundial do século XX, tendo sido muito importante para a conquista do Prémio Nobel de Literatura em 1929 por Mann.
Magia é a capacidade única dos “ares” da Montanha devolverem qualidade de vida às pessoas que sofriam horrores com doenças respiratórias. Mas os Sanatórios eram também locais glamorosos, de encontros e de histórias, muitas de amor, onde a doença dava lugar à saúde e ao regresso à inebriante vida social.
Em Portugal, a Montanha Mágica é esta cidade. No início do século passado, as pessoas vinham de todo o país e do estrangeiro para subirem até à Guarda. Vinham à procura do milagre da cura ou de reduzir o sofrimento. Vinham aos milhares. Os pavilhões do Sanatório da Guarda, projetados por Raúl Lino, um dos arquitetos mais queridos do Reino, estavam sempre lotados.
A procura por alojamento era tão grande que cresciam pela cidade pensões e hotéis. Muitos particulares também alugavam casas e quartos, correndo até risco grave de contágio, a troco de um eventual provento.
Mas quem se lembrou de mandar construir um Sanatório na Guarda?
Ana, na altura, ainda no século XIX, um médico e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, José Tomás de Sousa Martins, ainda hoje adorado e considerado milagreiro, integrou uma famosa Expedição à Serra da Estrela, orientada pela Sociedade de Geografia de Lisboa. Os registos desta expedição fazem parte do espólio do Museu da Guarda. Claro que Sousa Martins, já levava consigo o propósito de avaliar as condições da Montanha para a instalação de um sanatório, à semelhança do que via acontecer noutros países, como a Suíça.
Assim, no regresso a Lisboa, usou do seu prestígio e da sua influência e, juntamente com o médico Lopo de Carvalho, que veio a ser o primeiro diretor do Sanatório da Guarda, reuniu condições para que fosse construído este Espaço de Saúde, que teve honras Reais na inauguração, a 18 de maio de 1907. O Rei D. Carlos e a Rainha Dona Amélia vieram à Guarda, especialmente para cortar as fitas ao maior e mais moderno centro de tratamento de doenças do foro respiratório do século XX em Portugal.
Eram tempos de ouro desta Montanha Mágica e que estão de volta. Ana, observa o interesse crescente que despertam locais com ar e água de qualidade natural e com uma natureza luxuriante e única, como esta que temos aqui, neste Parque da Saúde, onde uma vasta equipa de especialistas em saúde e bem-estar se extravasa na prestação de cuidados.
Enquanto caminhamos, repara como estes belos pavilhões Raúl Lino, agora modernizados, são loucamente procurados e estão cheios de gente feliz. É uma cidade dentro da cidade. Estas pessoas que tiveram uma vida ativa intensa, encontram aqui a qualidade de vida que sempre desejaram. Imagina a riqueza de histórias e vivências que transportam para este espaço. Organizam e programam concertos musicais, fomentando uma vasta e fervilhante atividade cultural. Dinamizam tertúlias, encontros literários e exposições. Promovem festas glamorosas. Envolvem-se na ação social e divertem-se imenso. O tempo aqui é inspirador, cheio de histórias e estende-se, com prazer, tal como Thomas Mann o descreve na sua Grande Obra Literária.
Elsa, esta Montanha Mágica existe, mesmo!