Um texto não sombrio nestes dias de trevas seria difícil. Um raio de luz nesta escuridão que se adensa, com muitas nuvens, sem abraços, sem amigos para compartilhar conversas ou jogar cartas. Um tempo de liberdade para a expressão dos ignorantes, para a explosão de imbecilidade e de toleima perante uma realidade desconhecida e uma expressão da ineficiência da ciência hiperbolizada pelos incultos. Agora falamos de vírus como se conversava de futebol e fado. Os génios estão na rede social esgrimindo tonteiras e propostas e exigências e derramando fel por todo o lado. De facto, nada do que fizermos e do que não fizermos tem validade alguma. Não havendo comparação, não havendo alternativas em vigor, porque o medo até ataca Jesus, estamos no domínio da emoção. Vamos de medo em medo construindo hipóteses de conter o dano. Sabemos que crianças menores de 9 anos pegam a doença aos avós. Sabemos que o pânico é uma emoção que trepa num trajeto inverso da comida, sobe pelo ânus e aloja-se na cabeça. Quando o medo enche a cabeça de ansiedade liberta-se em diarreias e dores abdominais já conhecidas dos estudantes e dos seus exames. O povo lá diz, “borradinhos de medo” nos governam as instituições. Vivemos este tempo de terramoto que leva a perceber como num sopro já não há turistas, como numa brisa já não é preciso aeroporto no Montijo nem Beja, como as bolsas estoiram em segundos, como o crude podia estar muito mais barato, como a poluição desapareceu das cidades, como a miséria espreita num instante as certezas de Costa e seus correligionários. Chegou o Diabo!
Chegámos à parede a uma velocidade estonteante, com “airbags” avariados e travões a precisar de revisão e se calha os pneus carecas. BUM! Há mortos e feridos nesta viagem. Mas pior que tudo são as características humanas que subjazem da decadência. Os canalhas vão soltar sua voragem, os gananciosos vão cavalgar a miséria alheia, os emotivos vão construir cenas hilariantes, os histéricos vão ulular, mas os diabéticos pode ser que comam menos e melhorem. Chegou o Diabo e agora vamos ver do que Costa, que empurrou do poleiro o António José Seguro, que tanto quis o lugar de Pedro Passos Coelho, vai ser capaz. Agora a governação é difícil, agora o desemprego dispara, o capital recolhe-se, as empresas estoiram, a emigração não é possível, a fome espreita, as polícias que tanto descredibilizaram vão ser necessárias, os enfermeiros selvagens são precisos. Chegou o Diabo!