Esta não é uma crónica sobre o CDS. Também não é sobre a ascensão dos extremismos políticos e a apologia dos velhos moderados. É, ainda, sobre a necessidade de revisão urgente dos nossos conceitos psico-geográficos. É o completar da trilogia. Num primeiro texto propus matar o interior; num segundo, ostracizar a sigla CIM; neste terceiro sugiro reajustar a região. Depois, no ano novo, não mais maçarei o leitor com estas temáticas.
Posto isto, comecemos.
Em condições normais, um habitante de Tavira ou de Loulé não tem dúvidas de que a sua região é o Algarve, só o Algarve, nada mais que o Algarve. O mesmo se passa, para o Alentejo, com uma pessoa de Elvas ou Sines. Mas será assim com alguém da Guarda? Isto é, quando alguém da Guarda se refere à sua “região” sabe exatamente do que está a falar? Incluirá Viseu (com quem partilhava a província da Beira Alta)? Incluirá Castelo Branco (com quem partilhava a região derrotada em 1998, a Beira Interior)? Incluirá Foz Côa (do mesmo distrito, mas desde sempre posicionada noutra província, o Alto Douro)? E Aguiar da Beira (do mesmo distrito, da Beira Alta, mas desde a última década na Comunidade Viseu Dão Lafões)?
A norte do Tejo e a sul do Douro, é grande a cacofonia conceptual que paira sobre conceito de “região”. O desencontro vocabular para as delimitações geográfica, administrativa e estatística (e emocional) dos territórios potencia uma indefinição insanável no que toca à estruturação psicológica do espaço. Para milhares de nós, a região é nevoeiro.
Por sobre toda esta confusão, plana o mapa das NUTII, um tanto insosso, mas o único formalmente em vigor e com algum vigor, aquele que organiza o território de Portugal continental em cinco regiões: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. E apesar de nunca se ter avançado para a sempre adiada regionalização, é esta organização que impera e vai regendo muitos aspetos da vida das instituições e das pessoas. Os serviços e organismos do Estado – das CCDR às Direções-Gerais da Educação, das Administrações Regionais da Saúde às Áreas Regionais de Turismo – todos decalcam este mapa das cinco “grandes” regiões (que de grandes não têm nada, se colocadas a uma escala internacional). São estas as regiões que efetivamente existem, e não outras. Posto isto, a nós, calha-nos o Centro.
É certo que “Centro” não é um nome particularmente mobilizador (podia, remontando-se às origens, readotar-se o nome “Beiras”, como já vi alguém defender neste jornal). Centro é, reconheço, demasiado neutro. Como se fosse um grande espaço em branco entre o Norte liderado pelo Porto e a macrocéfala Lisboa-valtejiana. Todavia não deixa de, como todos os centros, ter também as suas virtudes. O Centro é a região da diversidade. O Centro é a região das cidades médias. O Centro é a região do equilíbrio urbano-rural. O Centro é a região da natureza. O Centro é descentralizado. O Centro é espaço. O Centro é alternativa. O Centro será, com toda a probabilidade, a única região que nos definirá no futuro.
Por isso, daqui para a frente, quando algum de nós falar das “cidades da região”, deve contemplar Castelo Branco, Coimbra e Aveiro. Quando pensar nos clubes da região não deve esquecer o Tondela e o Sp. da Covilhã. Quando diz que vai passar férias “cá na região”, pode ir à Figueira da Foz, a Seia, à Sertã ou à Lousã. Alguém de Pombal tem de saber que Pinhel é da sua região. Alguém de Penamacor tem de saber que S. Pedro do Sul é na sua região. Uma região com 100 municípios, 2,2 milhões de pessoas (aproximadamente a dimensão demográfica do País Basco, ou de Castela e Leão), organizada em 8 Comunidades. Não é ficção. É a nossa região.
Um portuense não tem dúvidas de que é nortenho. Assim um flaviense. O que queremos ser nós? Centristas? Centrais? Centrenhos? Incêntricos? Centrados? Centrenses? Centrões? Centralistas é que não! A tarefa não é fácil, mas temos de a fazer.
É preciso viver (n)o Centro, uma região com costa e raia, com oito cidades dispersas compostas por municípios, colhendo todas as virtudes que o conceito sempre ofereceu.
No ano novo, prometo maçar o leitor com qualquer outro assunto. Feliz Natal e um excelente 2025.