Censos 2021: precisamos de imigração!

Escrito por Acácio Pereira

“É evidente que o Estado e as autarquias devem multiplicar políticas de apoio às famílias e incentivar mais nascimentos. Mas ninguém se engane! As políticas de natalidade não resolvem “invernos demográficos” em lado nenhum.”

«Em cinquenta anos Portugal mudou. De modo radical. Neste últimos trinta, também», escrevia no jornal “Público”, no passado dia 18, o sociólogo António Barreto a propósito dos primeiros dados conhecidos do Censos 2021.
Os dados são quase todos bons e mostram duas coisas: quão pobre, atrasado e injusto era o país em que vivíamos; e os resultados que 47 anos de vida democrática produziram. Na verdade, juntando tudo o que é bom e mau, estes anos são simplesmente o período mais positivo e brilhante de toda a história de Portugal, descoberta do caminho marítimo para Índia e o ouro do Brasil incluídos.
Vamos aos números. Há 50 anos os alunos do secundário eram dez mil – hoje são 400 mil! Há meio século só 1% da população era licenciada, hoje 20% tem um curso superior.
Os setores de atividade mudaram muito. Hoje, com maior produção agrícola, só trabalha na agricultura 5% da população – há 50 anos trabalhavam 45% … e Portugal tinha de importar metade da carne que comia. Na indústria, de 40% baixou para 24% – sendo que agora mais de metade do PIB português são exportações.
A ascensão das mulheres é outro dado notável. Elas são a maioria na Administração Pública, nas escolas, nas universidades, nos hospitais, nas magistraturas, na advocacia.
Há uma nuvem, porém, sobre estes resultados: o envelhecimento da população é tremendo. Hoje 24% tem mais de 65 anos. Os pensionistas são quase 4 milhões, mais de 40% do total. Portugal tem provavelmente a natalidade mais baixa da Europa.
É evidente que o Estado e as autarquias devem multiplicar políticas de apoio às famílias e incentivar mais nascimentos. Mas ninguém se engane! As políticas de natalidade não resolvem “invernos demográficos” em lado nenhum – e, mesmo que resolvessem e começassem hoje, demoraria 30 anos a produzir efeitos na economia.
Não temos esse tempo. Em parte nenhuma de Portugal e, muito menos, na região da Guarda.
Precisamos de imigração! Precisamos de políticas estruturadas de captação de imigrantes. Políticas que de uns países tragam mão de obra para a agricultura, de outros para a indústria e para o comércio, de outros para o serviço social, de outros para as universidades e centros de investigação.
Uns fluxos terão de ser canalizados para Norte do país, outros para Sul. Uns para o interior, outros para o litoral. Enquanto estas políticas de imigração não forem prioritárias nos debates entre candidatos a primeiro-ministro, o notável salto em frente que Portugal deu em democracia estará sempre ameaçado pela crise demográfica que surgiu entre nós.

* Dirigente sindical

Sobre o autor

Acácio Pereira

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