Cavalos, anões e mulheres nuas

Escrito por Pedro Narciso

Um dos maiores e mais visitados sítios da Internet decidiu fornecer dados de utilização dos seus utilizadores. Não foi a Fundação Francisco Manuel dos Santos a orientar o estudo, mas acredito na honestidade, honorabilidade e, principalmente, no suor do trabalho, como é a malta do Porn Hub. Segundo os mesmos, em Portugal, a categoria mais pesquisada em 2018 foi “Lésbicas”. Não tendo dados, mas depois de saber a linha orientadora dos impostos municipais, com toda a certeza que o mais pesquisado no concelho foi “Anal”.
Numa espécie de “Casados à Primeira Vista”, os eleitores enamoraram-se de uma equipa desconhecida, envolveram-se emocionalmente e chegaram mesmo a renovar votos. E se, para muitos, o que aconteceu foi a chegada do cavaleiro no seu cavalo branco, do outro lado estará já negociado com a Europa, o Egixt, com o consequente término da relação. Um conto de fadas com novos contornos todos os meses, numa espiral de feiras e eventos que não permitem baixar taxas nem taxinhas. Onde uns veem amor e dedicação a longo prazo, há quem vislumbre uma perversidade sadomasoquista.
Nesta Wonderland contínua há obviamente quem se insurja contra elementos que coloquem a estratégia delineada em causa. O estudo “Qualidade da Governação Local em Portugal”, desenvolvido por académicos de universidades de Lisboa e Braga, foi colocado ao nível dos estudos que sustentam que a terra é plana e que as vacinas causam autismo porque apontam o ajuste direto como um fator que pode potenciar a corrupção e a ausência de transparência, como problemas potencialmente graves.
Com os riscos identificados, a conversa de sempre, favorável à descentralização, deveria ter um travão mais eficaz que o dos elétricos de Lisboa sob pena do choque ser grande. Se o quadro legal permite toda esta autoridade aos presidentes de câmara, imaginem com mais competências. Só o poder de Cristina Ferreira na SIC lhes seria comparável.
Exagero?
Alguém não gostou dos bancos da requalificada Rua do Comércio. Os dois ajustes diretos para requalificação dos mesmos totalizaram mais de 100.000 euros. Espero que em 2019 inventem maquetes em 3D e que gostem muito, mas mesmo muito, do elevador da Torre dos Ferreiros.
A passagem de ano na Guarda, segundo informação que consta do portal base, rondará os 150.000 euros. No ano passado, com a mesma banda como cabeça de cartaz, o município de Lagos passou o ano por sensivelmente metade do preço. Pagar portagens, cantar em altitude e ao frio fica caro. Já no Algarve até devem pagar para atuar.
Circulem então na EN18, entre a Vela e a Santa Cruz, e constatarão que, provavelmente, temos amores-perfeitos a mais. Entre nevoeiro, ausência de sinalética, deficiente marcação e com os buracos e irregularidades da via, vão descobrir um projeto inovador, de uma estrada que se conduz em braile.
Em França, os coletes amarelos fazem arder caixotes do lixo, aqui vemos arder dinheiro, enquanto nos enfiam o barrete laranja. Este Natal não esperem uma prenda no sapatinho, mas antes um chuto no rabinho do alívio fiscal. A baixa de IMI, da água ou a devolução do IRS terão de esperar em nome do cumprimento deste complexo plano de valorização do concelho, em que até já as feiras são encenadas com batuques, gaitas e figurantes. Um circo em que não há dinheiro, mas há palhaços.

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Pedro Narciso

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