Cartazes

Escrito por Albino Bárbara

“Nesta obra-prima do burlesco non sense da velha Egitânia, o cartaz é, sem sombra de dúvidas, o primeiro elemento de impacto aos nossos olhos, numa análise de algum amadorismo que, mesmo nos tempos de marketing, teimam em manter.”

A exemplo de todos os outros concelhos, a nossa cidade não poderia ficar alheia à existência de inúmeras estruturas que suportam a publicidade eleitoral neste tempo de pré-campanha.
Os cartazes políticos transportam mensagens significativas para o eleitor, tentando ciar impacto e dar nota dos candidatos através da “venda” da imagem e as perguntas colocam-se: Há qualidade estética num cartaz político? Tem alguma coisa de criativo?
Respondendo à primeira pergunta dir-se-á que os cartazes são instrumentos, mais ou menos, racionais na tentativa da conquista do poder e pouco ou nada há de falha estética, pois não lhe retira força icónica, pese embora a mensagem social seja completamente inexistente. A segunda questão tem a ver com o processo de designação e significado aliado a todo o estudo semiótico do símbolo como parte da comunicação.
O cartaz de campanha tem obrigatoriamente de possuir harmonia e simbologia necessária de forma a apelar ao voto utilizando os suportes de cor e expressão onde a persuasão, imagem e design gráfico o devam tornar objeto válido de divulgação. A ser assim, a escolha da cor determina algo do estudo psicológico de cada candidato. A cor é responsável por mais de 70% do apelo que ali é feito: o azul é associado à sabedoria e confiança; o branco à paz; o verde à tranquilidade; o vermelho à força e coragem; o amarelo à luz e calor. Já a associação de cores transmite algo diferente que determina sentimentos distintos de quem vê e posteriormente analisa.
Outra coisa a ter em conta é sem dúvida a indumentária utilizada na fotografia do cartaz. A camisa desapertada, num ou dois botões, o fato e gravata, a “t-shirt”, marcam a diferença e são objeto de estudo. Curiosamente o fato e gravata não perderam poder, pese embora continuem a ser símbolos do sistema, do status e do conservadorismo. Esse espartilho do pescoço tenta marcar a diferença e insere-se no tal “casual Friday”, em que o look idiossincrático contracena com a descontração algo forçada do braço cruzado e da camisa semiaberta.
Nesta pequena análise dos vários cartazes que povoam o nosso território, vemos um candidato que deixa antever, através do fato e sobretudo da gravata, sinais específicos de comportamento. O melhor é dizer para se chegar para lá. Num outro existe um sinal esquisito, de difícil leitura, que bem pode ser um símbolo fonético, a divisa do estagiário dos bombeiros ou a de 2º cabo da hierarquia militar, para seguidamente verificarmos que nem o Photoshop funcionou, pois na pré-impressão foi incapaz de dissimular um eventual hordéolo ou calázio, vulgarmente conhecido por treçolho. Depois confrontamo-nos com mais um onde a postura angelical do candidato mais parece assemelhar-se à de um menino de coro, muito bem comportado, encaixando a postura numa das fábulas de Esopo recreada séculos mais tarde por Jean de La Fontaine. Num autêntico cavalheirismo militante damos conta de outro, e não fosse o momento eleitoral que atravessamos, este faria seguramente jus à melhor publicidade do genuíno relógio suíço. Não parecessem imitações, é bem possível que a Rolex, a Cartier ou mesmo os patrões da Patek Philippe ou da Baume Mercier os viessem e tivessem de contratar. Mais à esquerda, o protoloco deveria dar a primazia ao candidato ficando ambas as senhoras a ladeá-lo. Ficava seguramente diferente. Para melhor.
Nesta obra-prima do burlesco non sense da velha Egitânia, o cartaz é, sem sombra de dúvidas, o primeiro elemento de impacto aos nossos olhos, numa análise de algum amadorismo que, mesmo nos tempos de marketing, teimam em manter.
Com cartaz ou sem ele, vem aí o tempo da palmadinha nas costas, do copo que se bebe na tasca mais imunda, da sandes do porco saída do espeto rançoso, da música agoniante apimbalhada do carro de som, da contraespionagem, da conversa fiada, do recurso aos tribunais, das promessas de mundos e fundos, algumas sem pés nem cabeça, tingidas de rosa, azul, laranja, verde ou vermelha. Enfim, uma postura mais que responsável digna da tal “noblesse oblige”. E se o tal “show must go on”, o espetáculo está prestes a começar. A luta pelo poleiro está ao rubro e os anarcas continuam a ter razão: «O que eles querem é a tua carcaça, eleitor». Eles pensam da mesma maneira, mas a postura obriga-os a dizer de forma diferente. Dizem eles, num distinto processo educado e politicamente correto e sem papas na língua: Não se esqueça de votar em mim no próximo dia 26 de setembro…

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Albino Bárbara

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