Cabine telefónica

Escrito por Albino Bárbara

Outono é a estação triste. Árvores despidas. Folhas velhas amontoando-se nas ruas. Dias pequenos a que se soma esta situação que a todos afeta. No Outono fazem-se ajustes, redefinem-se metas e recomeça a luta, talvez titânica, com objetivos. Em tempos idos aplicava-se aquele chavão carregado de autêntica convicção “a luta continua”.

Pois bem, é nos jardins que o Outono é bem notado. Jardins floridos que passam para oásis cinzentos das cidades, onde apenas se excetuam alguns equipamentos que por lá se encontram. Um dos jardins de que particularmente gosto é o do Largo Frei Pedro, na nossa cidade. Não sei se é por ter o busto de Francisco dos Prazeres, filantropo, defensor de grandes causas, padre, médico e simultaneamente presidente da Câmara, impulsionador do hospital da Santa Casa e do Abrigo Distrital, se é por ser central e realmente muito bonito. O pequeno jardim tem, junto ao quiosque do Esteves, uma cabine telefónica onde podem acontecer grandes conversas de inúmeras personagens. Ao acaso, escolhemos quatro atores, em amena cavaqueira, na tal cabine telefónica:

António: Tá lá. Então, pá, tás bom?

Rui: Tudo bem.

António: Agora que despachámos aquela situação da ida ao Parlamento de dois em dois meses e, como combinado, a divisão dos tachos nas CCDR’s, ficou equilibrada. A Isabel tá felicíssima e, no Orçamento, como te disse, não foi preciso hipotecar-te. Os da festa da Atalaia estavam em dívida. Tinham que pagar.

Rui: Claro, foi o que acordámos. Continua a dizer que governas à esquerda, que nós cá nos entendemos. No processo da pandemia até estou disposto a apresentar mais umas coisitas, isto é, se precisares. Toma cuidado com a Catarina, olha que ela já topou o jogo. Governa lá com o apoio da esquerda, que nas grandes questões cá estarei. Não te vou desiludir.

António: Eu sei que posso contar contigo. Já disse isso ao Marcelo e ele acha que, depois da pandemia e da presidência da UE, lá pro final do próximo ano, se tudo correr pelos ajustes, havemos de por os patins aos da geringonça e iremos com toda a certeza fazer o bloco, (risos) não o da esquerda, mas sim o central. Grande abraço para ti.

Rui: Claro que sim. Conta comigo. Grande abraço também para ti.

Numa outra (possível) conversa nesta bendita cabine telefónica, que ninguém ameaça, nem o Schumacher, mais duas personalidades se entendem. São eles Alexandre, o Grande e o Conde Rodrigo.

Alexandre, o Grande: Caríssimo Conde Rodrigo como estás? Deixa que te diga que não gostei de algumas afirmações tuas relativas à Cimeira. Era bem melhor por alguma ordem no teu laranjal. Tens tudo em polvorosa. Afinal, e, ao que parece, não é só na capital do distrito.

Conde Rodrigo: Eu sei. Tou a tratar do assunto, que como compreendes se afigura muito difícil. Mas olha que tu tens de resolver rapidamente aquele processo da Segurança Social. Se não te despachas tenho de ir a lume.

Alexandre, o Grande: Ok. Fica descansado. Já falei com a Rita e com a Ana. Vai abrir concurso. Depois digo-te. Já agora, tens alguém que queira concorrer? Viste como resolvi o processo, mais que emperrado da ULS?

Conde Rodrigo: Vi. E está bem. Na sequência do que tem sido feito a nível nacional, também cá a direção fica bicolor. Assim é que é. Mas desculpa perguntar, o “inho” já não é candidato à Câmara?

Alexandre, o Grande: Claro que não. Vocês é que têm de resolver a questão dos litigantes Carlos e Sérgio. Ou tens em vista uma terceira via? Olha que eu daqui a dois, três meses, no máximo, digo quem é o nosso candidato. E já agora no processo ULS ficaste contente ou não?

Conde Rodrigo: Já te disse que sim. Depois de lá ter estado um que veio dos montes Hermínios, outro das estepes do Oeste, porque não agora este da pátria das arrufadas e com conhecimento gastronómico da sopa das freiras de Santa Clara. Isto, se tudo correr bem, vai ser um ai que te avias.

Alexandre, o Grande: Não ponhas dúvidas. Com este conselho de administração rosa choque/laranja azeda vai tudo de vento em popa: a segunda fase, o pavilhão 5, a recuperação do António Lencastre, do rainha Dª Amélia, a oftalmologia, a cardiologia, a ortopedia, o arrumar dos críticos, daqueles que são contra os que estavam, os que estão e os que hão de vir. Isto é que vai ser! Que se cuidem os covilhocos…

Conde Rodrigo: Claro, evidentemente. Mas olha lá, mesmo com esta coloração disformista, no meio de 140 mil utentes não havia um que pudesse assumir a presidência da instituição?

Alexandre, o Grande: Já por mais de uma vez te esclareci esta questão do paraquedismo. Então como explicas os Cardotes, Frasquilhos e Valdezes? E nós não tivemos uns Seguros, uns Vitorinos, uns Campos, uns Guerras. Até o CDS teve por cá o Barbosa. Lembras-te? Oh homem, o estatuto é sempre o mesmo: o nascer cá, o pai, a mãe, o tio, a tia, o avô, a avó, os sogros, a prima ou os primos serem de cá.

Conde Rodrigo: Pois é. Tens toda a razão. Pelos vistos a saga continua. Um bom dia para ti. Voltaremos a falar em breve. Abraço.

Alexandre, o Grande: Aquele abraço também para ti.

Pois bem. O Outono é mesmo a estação do recomeço. Tempo de se atingirem metas e objetivos.

Nota: Qualquer semelhança entre pessoas e situações tem de ser considerada mera coincidência.

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Albino Bárbara

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