Bússolas modernas

Escrito por António Costa

«O campo magnético terrestre não é constante no tempo e muda em termos de direção e intensidade»

A bússola, que durante séculos constitui uma grande ajuda para a navegação, primeiro a marítima e depois a aérea, não funciona em qualquer ponto da superfície terrestre. Ao sobrevoar as zonas polares, o instrumento é totalmente inútil visto que, ao encontrar-se exatamente por cima do polo magnético, a agulha não recebe a influência das linhas de força de campo.
Para se revolver o problema e se explorar todos os recantos do planeta se nos perdemos, hoje em dia usam-se instrumentos mais sofisticados, baseados em tecnologias diferentes. As radiobússolas, por exemplo, mais do que para o Polo Norte magnético, apontam para uma fonte de sinais de rádio cuja posição é conhecida. Os sistemas de navegação por satélite, como o GPS (Global Positioning Sistem), usam os sinais provenientes dos satélites para indicar em que ponto exato da Terra nos encontramos. Este sistema já está amplamente generalizado, sendo usado nos sistemas de navegação por satélite, em meios de transporte e também em smartphones.
O campo magnético terrestre não é constante no tempo e muda em termos de direção e intensidade. Detetam-se apenas oscilações quase diariamente, pois o Polo Norte magnético desloca-se constantemente em torno do norte geográfico. Mas foi ao longo de milhares de anos que se verificaram variações muito mais importantes. Através da análise de antigas rochas vulcânicas, os estudiosos descobriam que o campo magnético terrestre, durante as diversas eras geológicas, inverteu várias vezes o seu sentido, trocando a polaridade. Isto significa que, se antes da última inversão, que teve como resultado a configuração magnética, tal como hoje é conhecida, tivessem existido as bússolas, todas as suas agulhas teriam apontado para o Polo Sul.
Embora nesses tempos ainda não houvesse sinal de bússolas, na natureza existia algo de semelhante. Com efeito, o magma dos vulcões contém minerais ferrosos que, aquando do arrefecimento, se orientam nas rochas na direção do campo terrestre naquele momento. Assim, ao observarem o magnetismo dos estratos de lava que se depositaram e arrefeceram em épocas diferentes, os geólogos conseguiram reconstituir a evolução do campo magnético do planeta no tempo, e detetaram que este mudou várias vezes de direção.
Vários estudos indicam que esta inversão se pode verificar de uma forma rápida: menos de um século, arriscam os geólogos italianos, norte-americanos e franceses que publicaram os resultados de uma investigação realizada nos Apeninos. Segundo esta equipa, que analisou as rochas provenientes de um antigo lago, haveria vestígios de uma inversão produzida num período de tempo comparável ao de uma vida humana.
Assim sendo, poderia esta inversão ocorrer de um momento para o outro? E, sobretudo, com que consequências? Ainda não se sabe o que se passa no campo magnético terrestre no período da inversão: se muda de repetente, se enfraquece, se atravessa uma fase de instabilidade… O seu papel é crucial para a vida porque protege a Terra das partículas energéticas dos raios solares e cósmicos, e ninguém sabe dizer com certeza o que aconteceria às plantas e aos animais se, durante um determinado intervalo de tempo, a sua ação se tornasse menos eficaz. Um dado bastante tranquilizador é o facto de estas duas inversões se terem verificado quando o homem já existia na Terra, sem que isso tenha provocado a sua extinção. Seja como for, esses homens não dispunham de aparelhos elétricos, que hoje poderiam ter problemas de funcionamento no caso de ocorrer uma inversão.
Nos últimos anos, o interesse pelo estudo do campo magnético terrestre aumentou a tal ponto que a Agência Espacial Europeia (ESA) estabeleceu um programa específico ad hoc, o projeto “Swarm”. Para estudar o geomagnetismo e os seus efeitos nos seres vivos, a ESA pôs em órbita três satélites, que de momento parecem detetar sinais de enfraquecimento do campo magnético terrestre. Poderia tratar-se da fase inicial de uma nova inversão? Os cientistas não excluíram essa possibilidade.

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António Costa

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