Boticas e farmácias da Guarda: primeiros tempos

Escrito por Francisco Manso

“A Guarda, à semelhança de outras terras, tinha também um, ou mais, boticários encarregados de manipular os medicamentos para os seus doentes.”

A botica foi a antecessora da farmácia. Era ali, num pequeno espaço, que o boticário preparava e vendia medicamentos. Mas já era um lugar fixo, pois outrora essa venda era ambulante.
A Guarda, à semelhança de outras terras, tinha também um, ou mais, boticários encarregados de manipular os medicamentos para os seus doentes. O praticante era um elemento importante, e não só por ser uma condição obrigatória para vir a ser farmacêutico. A este competia a sua alimentação e alojamento, e era responsável pelos seus atos. Repare-se na qualidade de muitos praticantes, alguns virão a ser figuras de grande destaque, e não na área da botica, que entretanto abandonaram.
Alguns farmacêuticos ligados à Guarda, como o Prof. Dr. Lúcio Martins da Rocha e o Prof. Dr. Vicente Jorge Seiça, vieram a ser figuras nacionais. Das primeiras farmácias restam duas: a da Misericórdia e a Central, sendo que a primeira é institucional e a segunda a casa comercial mais antiga da Guarda, e ainda em funcionamento.

A primeira botica

Qual teria sido a primeira botica e o primeiro boticário da Guarda? A primeira botica foi, sem dúvida, a da Santa Casa da Misericórdia. Criada em 1870, era dotada já de um mínimo de organização e possuía instalações próprias. Quanto ao nome do primeiro boticário da Guarda perde-se na noite dos tempos. As farmácias foram muitas, duas subsistem, as outras foram-se perdendo ao longo do tempo. Uma, a Farmácia da Sé, mudou de instalações e de proprietários. Outra, a Farmácia Teixeira, mudou apenas de proprietários, curiosamente, os mesmos, a família Grilo.

Farmácias na Guarda

Farmácia Cardoso

Propriedade de Francisco de Oliveira Cardoso e Figueiredo, estabeleceu-se na Guarda em 1881. Começou por ser farmacêutico da Misericórdia, onde em 1877 ganhava 400$000 réis anuais, mas pediu rescisão do contrato.
No entanto, em 1874 já tinha como praticantes José de Oliveira Cardoso e Figueiredo e Ayres Frederico de Sousa Cardoso, da Guarda, pelo que já era farmacêutico. Outros praticantes, sob a sua responsabilidade, foram Manuel Marques dos Santos, César de Andrade Pissarra, da Guarda; Manuel Joaquim Monteiro, dos Montes do Jarmelo; e Joaquim de Mendonça Coutinho e Joaquim Mendes Coutinho, ambos de Cavadoude.
Foi pai do farmacêutico António Figueiredo de Andrade, natural da Guarda, aprovado “plenamente” na Escola de Farmácia de Coimbra, em 1910, depois de oito anos de praticante.

Farmácia Carvalho

O seu proprietário era José Nunes de Carvalho. Em 1881 fez-se sócio do Real Montepio Egitaniense e foi nomeado diretor da farmácia da Misericórdia da Guarda. Por lá ficará até ao virar do século. Depois de sair da Misericórdia instalou-se com casa própria na Rua Marquês de Pombal, talvez em 1889, pois nesse ano já avaliou o praticante Júlio d’Almeida. Ainda funcionava em 1918. Com ele praticaram, ou foram avaliados, César Augusto de Oliveira, Orlindo José de Carvalho, Salvador do Nascimento, Alfredo Freire Ruas e Romeu Dias de Andrade Pissarra, todos eles nomes grandes da cidade da Guarda. A farmácia por ele instalada, e que foi antecessora da Farmácia Teixeira, ficava nos baixos da Pensão Alegria, num prédio de Paulo Pereira das Neves, na altura o proprietário de todos os terrenos até ao Banco de Portugal. Foi alvo de um grande incêndio, que o destruiu completamente, e veio a ser adquirido, depois de grandes polémicas, por Hermínio Dias Mourato. Anos depois, bastantes, ali construiu o prédio onde se instalou o Montepio Geral.

1. Farmácia Carvalho

1. Farmácia Carvalho, na Rua Marquês de Pombal, no edifício do lado direito.

 

Farmácia Central

Era propriedade de Júlio de Almeida, irmão do general João de Almeida e do dr. José de Almeida.
Natural de Vila Fernando, concelho e distrito da Guarda, quis ser farmacêutico. Foi praticar com José Nunes de Carvalho, sendo sido avaliado em novembro de 1889, tinha 14 anos. Logo nesse ano instalou-se Misericórdia e por lá ficou décadas. A casa tornou-se um lugar de cavaqueio, e o Sr. Júlio uma popular e muito respeitada da vida da Guarda.

2. Farmácia Central, no centro da imagem. Largo João de Almeida, ainda com  o Terreiro dos Ovos.

2. Farmácia Centra, no centro da imagem. Largo João de Almeida, ainda com o Terreiro dos Ovos. 

Farmácia Fernandes

Propriedade de António Manuel Fernandes, teria existido por volta de 1880.

3. Lúcio Martins Da Rocha

3. Lúcio Martins da Rocha. In Famalicão da Serra, Jaime Alberto Couto Ferreira

 

Professor Dr. Lúcio Martins da Rocha

Lúcio Martins da Rocha, filho de Luís José Martins e de Antónia Esteves da Rocha, nasceu em Famalicão, concelho da Guarda, a 14 de dezembro de 1864. Matriculou-se em 1884-85 nos preparatórios médicos (Faculdade de Matemática e Filosofia), tendo-se licenciado na Faculdade de Medicina em 1893. Dois anos passados era já lente catedrático, passando em 1902 para a Escola de Farmácia, então criada. Veio a ser um dos mais eminentes farmacologistas portugueses. Foi também médico nos Hospitais da Universidade de Coimbra. Faleceu em 1950.

* Investigador da história local e regional

Sobre o autor

Francisco Manso

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