Bom Natal, contornando discussões

Escrito por Diogo Cabrita

“Há as histórias duras, os crimes, as traições, as descolonizações, os refugiados. Por vezes é a doença que regressa. Recomeçar seria a ideia para todos. Reconstruir e ter sucesso.”

Os regressos são todos tensos, são complexos para o que recebe e para o que chega. Voltam com outra personalidade, regressam com uma aculturação que se entranhou na que a família deu. Ganharam vícios e costumes que não se adaptam ao ninho. O filho que volta para os pais depois da glória, mas agora desempregado. O filho que se abriga junto da mãe no divórcio. São pessoas adultas que regressam com uma mochila de vivências, uma bagagem estranha. Uns viveram longe e construíram um percurso que os de casa nunca testemunharam. Ouvem incrédulos, desconfiam da veracidade. Há as histórias duras, os crimes, as traições, as descolonizações, os refugiados. Por vezes é a doença que regressa. Recomeçar seria a ideia para todos. Reconstruir e ter sucesso.
Há regressos apoteóticos, como o filho ministro. Outros regressos são complexos, como o pai ladrão. Esta crónica vem a propósito do Natal de 2021 onde se sentam à mesa prováveis familiares, mas possíveis conflitos, desassossegos, assuntos por tratar, tabus por resolver, desencantos por abrir. Na hora em que se abrem as garrafas, se retiram as rolhas, se verte o vinho pela garganta soltam-se alegrias e tormentas, o rio de calor e emoções verte suas prendas e surgem choros, abraços, memórias, homenagens e afetos. No Natal regressa muita gente à mesa do repasto e tem esses condimentos da retoma, da conversa que faltou no passado. Este de 2021 tem temas que desaconselho – a pandemia e seu radicalismo bilateral, a tourada e sua intolerância bilateral, a dieta e sua inadequação na época dos excessos, a crise climática e suas origens, o Bolsonaro e suas controversas sugestões. Também a qualidade de Jorge Jesus gera polêmica nestes dias. Molhadas as gargantas, elas disparam opiniões sem freio. No regresso e na retoma as pessoas devem usar travões novos, ignições suaves e sobretudo resolver a quatro-olhos (Tête-à-Tête) os problemas quiescentes.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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