Bólide

Escrito por António Costa

“A passagem deste bólide foi tão rápida e brilhante que ultrapassou a luminosidade da Lua, iluminando a noite com um clarão que durou vários segundos e pôde ser visto de muitas partes da Península Ibérica. É precisamente a vaporização do bólide que produz o intenso clarão.”

Nas últimas semanas, Portugal tem sido palco de fenómenos astronómicos pouco vistos nestas latitudes. Primeiro, assistimos a auroras que marcaram os céus no Interior Norte de Portugal de tons vermelhos; na semana seguinte um bólide iluminou, por instantes, a noite na Península Ibérica. Por se tratar de um meteoro muito brilhante é designado por bólide (“fireball”, em inglês).
Os termos “meteoros” e “meteoritos” são muitas vezes confundidos com outro, menos conhecido, “meteoroide”. De facto, todos designam uma manifestação do mesmo objeto; os diferentes nomes distinguem apenas a maneira como é visto. Os meteoroides são fragmentos de asteroides ou cometas, muitas vezes do tamanho de um grão de areia, que existem em toda a parte no sistema solar. Quando estes objetos entram na nossa atmosfera, volatilizam-se e deixam atrás um rasto luminoso. Passam então a ser designados por “meteoros” ou “estrelas cadentes”. Por fim, se não se dissipar inteiramente na atmosfera da Terra, atinge o solo, caso em que é designado por “meteorito”. Se a velocidade de impacto for baixa, o meteorito sobrevive.
De acordo com os dados fornecidos pelo Instituto de Astrofísica da Andaluzia, este bólide de origem cometária entrou na atmosfera a uma velocidade de 161 mil quilómetros por hora e deixou de ser visível quando ainda estava a, aproximadamente, 54 quilómetros de altitude. Deixar de ser visível não significa que se tenha desintegrado nessa altura, na medida em que estes objetos quando se movem abaixo dos 30/40 quilómetros de altitude deixam de se ver – é o chamado voo escuro – e o cálculo da trajetória e do local de um potencial impacto na superfície terrestre é bem mais difícil.
A passagem deste bólide foi tão rápida e brilhante que ultrapassou a luminosidade da Lua, iluminando a noite com um clarão que durou vários segundos e pôde ser visto de muitas partes da Península Ibérica. É precisamente a vaporização do bólide que produz o intenso clarão.
Estatisticamente, estes fenómenos são recorrentes, ainda que com este tamanho sejam mais raros, sendo a Rússia o local onde são mais visíveis porque a Rússia tem mais área. As crateras sobre as superfícies da Terra são raras, uma vez que desaparecem muito rapidamente, em termos geológicos, devido à tectónica das placas, ao vulcanismo ou à erosão causada pelo vento ou pela água.
A grande maioria cai nos oceanos porque cerca de três quartos da superfície terrestre é mar. O barulho registado aquando da passagem deste objeto celeste resultou da onda de choque provocada pelo deslocamento do bólide, ainda que este não tenha sido suficientemente grande ou tenha passado suficientemente perto para, por exemplo, partir um vidro.
Na senda destes fenómenos raros, foi possível observar antes do amanhecer do dia 3 de junho um alinhamento perfeito de seis planetas. Mercúrio, Marte, Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno surgiram junto ao horizonte, alinhados numa formação pouco comum de seis planetas, a que se juntou a Lua em fase crescente.

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António Costa

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