Bilhete Postal por Diogo Cabrita: Abrir

Escrito por Diogo Cabrita

A realidade é a circunstância, o lugar e o modo, o tempo e a estrutura que nos consubstancia no percurso.

O problema é que se nasceste na prisão, as tuas janelas estão sempre gradeadas. A probabilidade de veres um porco todos os dias é teres um quarto virado à pocilga. O cheiro do peixe dormirá contigo se fores peixeiro. A trincheira destruirá os teus pés se estiverem sempre molhados. A realidade é a circunstância, o lugar e o modo, o tempo e a estrutura que nos consubstancia no percurso. A realidade formata a nossa criatividade e por essa razão se não saímos da pocilga não vemos os cisnes, se não deixamos a cadeia não tiramos as grades. O programa Erasmus é uma viagem para muitos estudantes que define o resto das suas vidas. A colocação numa Aldeia SOS é uma solução que desmonta um drama nalguns casos. Se a tua realidade é porrada, é bebedeira, é gritaria, é desaconchego, não brota de ti o carinho, não asperges perfume. Mas a exposição a outras verdades é terapêutica, é começo e por isso é essencial para as políticas educativas e também para as formações. Ver como se desembaraçam de situações iguais culturas diferentes é aprendizagem, é universidade da vida.
O próprio discurso, como a música e a poesia, só divergem se trouxerem vivências, experiências, exposições. Um nascido entre paredes, sem janelas, não desenha flores porque não sabe que existem. Um nascido na selva desconhece um piano. Por vezes, mostrar a praia, levar alguém a Lisboa, é já uma oportunidade, um alpendre de onde brota a descoberta. Aprender um novo ofício pode ser uma libertação e uma felicidade porque separa de uma realidade ansiosa e abre um caminho novo. Retirar sonhos das cadeias onde os oprimem é um bom objetivo.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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