“Bazuca” deve financiar o teletrabalho no interior

Escrito por Acácio Pereira

«Uma grande lição da pandemia da Covid-19 foi que os territórios do interior mostraram uma resistência surpreendente, quer à crise sanitária, quer à crise económico-empresarial que lhe sucedeu»

São avultados os fundos europeus que Portugal vai ter à disposição. O que falta executar do Portugal 2020 – 12,8 mil milhões de euros até 2023. Cerca de 30 mil milhões de euros do novo quadro de verbas europeias que deverão ser executados até 2027. E os 15,3 mil milhões de euros do Fundo de Recuperação Europeu, a chamada “bazuca” europeia. São quase 60 mil milhões de euros para uma década.

A um território como a Beira Interior, e à região da Guarda, interessam sobremaneira dois eixos nas políticas de aplicação de tamanho volume de verbas. Primeiro: a possibilidade de as câmaras municipais poderem ter acesso a financiamento europeu para a generalidade das suas políticas urbanas, sociais e de dinamização económica. Segundo: a da utilização desses fundos dever ter, no interior, o horizonte comum de atrair mais pessoas para estes territórios, para as suas vilas e cidades, única forma de reequilibrar demograficamente o país.

Uma grande lição da pandemia da Covid-19 foi que os territórios do interior mostraram uma resistência surpreendente, quer à crise sanitária, quer à crise económico-empresarial que lhe sucedeu. O interior mostrou-se um território seguro em termos de saúde e atrativo para centenas de milhares de pessoas que em 2020, e neste início de 2021, tiveram de exercer as suas profissões em teletrabalho.

Muitas dessas pessoas voltaram às suas terras pelo conforto e segurança que estas lhes transmitem, trazendo consigo os familiares. E verificaram uma coisa: como o custo de vida é muito inferior ao das áreas metropolitanas, as famílias, vivendo melhor, ficam ainda com mais rendimento disponível.

As autarquias do interior devem, por conseguinte, desenhar políticas para fixar estes “nómadas digitais” que a pandemia trouxe para os seus concelhos. Devem criar incentivos para atrair outros que, vendo a subida da qualidade de vida e do rendimento real dos seus colegas e amigos, desejem também tentar a mesma experiência.

As políticas autárquicas podem passar por favorecer habitação para as classes médias e médias altas. Podem passar pela multiplicação de espaços de “coworking” com boas condições para o trabalho individual fora das sedes das empresas. Podem passar por valorizar as escolas e as infraestruturas desportivas e de lazer, para tornar mais apetecível aos filhos a mudança do litoral para o interior.

Se isto for feito, a economia das cidades e territórios do interior irá acelerar. E as nossas comunidades receberão novos elementos de setores muito qualificados da sociedade portuguesa para o convívio do dia a dia.

 

Acácio Pereira
Dirigente sindical

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Acácio Pereira

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