Autoavaliação

Escrito por Diogo Cabrita

“A grande dificuldade é saber se diríamos a verdade num momento embaraçoso, um tempo em que a nossa crueldade foi exercida, a nossa negligência aconteceu, a imprevidência saiu das nossas mãos.”

A questão da justiça e a sua ausência perpassa por inúmeros filmes e argumentos livrescos. A grande dificuldade é saber se diríamos a verdade num momento embaraçoso, um tempo em que a nossa crueldade foi exercida, a nossa negligência aconteceu, a imprevidência saiu das nossas mãos. Julgar-me mal num ato que cometi? Aqui começa a dúvida sobre o comportamento dos homens. A barbárie aconteceu na humanidade. Houve julgamentos, mas ninguém pediu o seu. Houve criminosos de guerra, mas não se voluntariaram para expor a realidade. Matar por ganância, por inveja, por preguiça, por raiva constrói a dor, a vingança e desejos incivis de ripostar. Aos tribunais chegam criminosos do absurdo, histórias de uma crueldade despropositada. A criatividade de exercer o mal é infinita e por essa razão é infindável a sua dor e a conversão da justiça numa plataforma de pagamentos reversos. Em boa verdade o número de crimes violentos em Portugal é bastante inferior ao que as pessoas cogitam, ou retiram da leitura dos tabloides, ou da observação de programas de televisão. Menos de oito em cada cem presos em Portugal cometeu delitos de sangue. A maioria são penalizações sucessivas por drogas, por tráfico, por falta de carta de condução, por furtos. São 14 mil pessoas nas cadeias e milhares mais que passaram pela justiça. Contrariamente ao que se diz, a justiça trabalha bastante em Portugal. Trabalha muito porque há muitas queixas e muitos processos, sendo que um número enorme é por difamação.
O que importa mesmo é pensar que se houvesse um sistema em que se pedia a quem cometeu um crime que se identificasse e pedisse punição, a maioria insistiria na inocência. A falta de autocrítica, a ausência de sistemas de travão, as educações perversas na autoavaliação conduzem a esta incongruência de que muitos enveredam por uma obsessão, mas não percebem que podem não ter razão.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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