Na edição de O INTERIOR de 18 Setembro de 2024 escrevi aqui (https://ointerior.pt/opiniao/autarquicas/) que, «o PS, depois do resultado desastroso em 2021 (17,9%), tudo fará para recuperar a autarquia guardense. António Monteirinho é o nome que se perfila para liderar a candidatura socialista, mas a lista poderá ser encabeçada por Ana Mendes Godinho. A antiga ministra gostaria de ser candidata à Câmara de Sintra, mas, depois de não ter apoiado Pedro Nuno Santos, não deverá ter margem de escolha e a Guarda será a única opção. Ana Mendes Godinho ainda não terá decidido, mas vai “andando por aí”». Era a minha interpretação (especulativa e teórica) do contexto político e partidário na segunda semana de setembro…
Quinze dias depois, na edição de 6 de outubro de 2024, na sua coluna de opinião mensal neste jornal, Ana Mendes Godinho, no seguimento de uma excelente crónica sobre a publicação de um novo pacote de apoio ao emprego que, na opinião da autora, é «uma machadada silenciosa no interior» e que «é um retrocesso e um sinal de desinvestimento no interior», respondeu-me num post scriptum (https://ointerior.pt/opiniao/nao-podemos-ignorar-nem-calar/): «Ah, não posso deixar de partilhar que tenho lido com “curiosidade” as teorias sobre os meus “quereres” autárquicos, dignas de um Zandinga desnorteado…». Muito mais do que um “pós-escrito”, este “P.S.” foi ali colocado com uma estratégia retórica, que diminuiu a importância do teor do artigo, particularmente sobre o programa “Trabalhar no Interior”, com o leitor a deparar-se no final com um comentário posto em destaque, intencionalmente, com uma suposta despreocupação, mas que acabava por merecer a atenção de todos os leitores publicando o mais importante que tinha para dizer…
Afinal, passados alguns meses, e enquanto os socialistas na Guarda andavam distraídos (à espera…), a deputada do PS pelo distrito da Guarda foi anunciada pelo próprio Pedro Nuno Santos como a candidata do PS em Sintra… O “Zandinga desnorteado” (uma expressão futeboleira antiquada cuja autoria facilmente reconheço!) especulou sobre uma probabilidade improvável, em setembro. Na altura, o anterior presidente da FAUL (Federação da Área Urbana de Lisboa do PS) tinha outros nomes em mente para Sintra. Mas, entre a saída de Ricardo Leão e as reações de alguns dirigentes socialistas à polémica entrevista de Pedro Nuno Santos ao “Expresso”, sobre a imigração, levaram o secretário-geral socialista a excluir alguns putativos nomes e, inesperadamente, a anunciar a antiga ministra do Trabalho como cabeça-de-lista socialista à “Vila” – as estrelas alinharam-se a favor de Ana Mendes Godinho, que deverá suceder a Basílio Horta e manter Sintra como concelho socialista.
Ainda faltam muitos meses para as eleições autárquicas. Mas, sem dúvidas, com o anúncio de Ana Mendes Godinho para Sintra haverá muitas consequências na Guarda: o PS perde uma putativa candidata a presidente da Câmara de excelência; o distrito da Guarda perde a sua deputada com maior notoriedade; António Monteirinho será o deputado do distrito da Guarda e, entretanto, deverá ser confirmado como candidato a presidente da Câmara da Guarda; Álvaro Amaro terá o caminho para o regresso à cadeira maior da Guarda mais difícil pois, se Ana Mendes Godinho fosse candidata do PS, os socialistas que votaram no PG em 2021 elegendo Sérgio Costa, regressariam ao Partido Socialista e o PG perderia muitos votos; Sérgio Costa respirou de alívio, pois assim poderá manter os votos dos socialistas que o elegeram em 2021 e a sua reeleição fica mais próxima; o Chega ainda não apresentou candidato, mas, se for Nuno Simões de Melo, facilmente poderá manter os 4.849 votos que teve nas últimas legislativas e baralhar completamente a equação.
P.S.: Irei entrevistar Ana Mendes Godinho, na Rádio Altitude, no próximo dia 14, a partir das 11h00, sobre estes e outros assuntos.