“Mon ami Pierrot. Prete-moi ta plume. Pour écrire un mot. Ma chandelle est morte. Je n’ai plus de feu. Ouvre-moi ta porte. Pour l’amour de Dieu”.
Neste pequeno lamento que remonta ao século XVIII, diga-se que a romana lei Gabínia propunha luta, sem tréguas, aos piratas do regime, mesmo percebendo que o Constantino tinha fama que vinha de longe e, nem com trocas e algumas baldrocas se safavam.
Com efeito nos anos 80 do século XIX, o Dr. Sousa Martins atestava, com todo o rigor científico, a qualidade dos ares serranos para a cura do bacilo de Koch, sendo a Guarda contemplada com o primeiro sanatório da Associação Nacional de Apoio aos Tuberculosos. Pois bem, poderei hoje e aqui ser repetitivo, mas tendo em conta a visita do ex-ministro da Saúde, na semana passada a estas terras sanchinas, é sempre bom relembrar o turbulento e truculento processo da saúde, sem qualquer fim à vista.
Decorria a última década do século passado quando o então primeiro-ministro Cavaco Silva decidiu construir hospitais em todo o país, tendo proposto ao então diretor, Valério do Couto, um acrescento a um dos pavilhões do velho sanatório em troca da alienação de terrenos da cerca, numa visível falta de visão, ficando a Guarda entalada no meio de duas modernas unidades hospitalares. A partir daí o folhetim hospital marcou toda a agenda política.
A promessa de Barroso, em junho de 2002. O terreno que Maria do Carmo não deu. O anúncio de Luís Filipe Pereira, em comício partidário, com lançamento de datas e sem pagamento do hipotético projeto. A luta pela manutenção da maternidade. O debate na Assembleia Municipal da Guarda a 17 de novembro de 2003. A oferta de Câmara de Celorico de um terreno para a instalação entre a Guarda e aquela vila. A destruição de material hospitalar, por parte do ministro Correia de Campos, num episódio de contornos burlescos, partindo uma cadeira para quebrar o enguiço. A promessa de Sócrates, em fevereiro de 2005, dizendo que a «Guarda merece ter um Hospital». A segunda visita, bem mais calma de Correia de Campos, em maio de 2007,que culminou no lançamento da primeira pedra do novo acrescento por parte de Sócrates, em plena campanha para o Parlamento Europeu, concluindo-se que o PSD ofereceu-nos um apêndice remendão de arquitetura cavaquista enquanto o PS apostou num outro um pouco maior, sendo provavelmente o único hospital no mundo que entre um serviço de Urgência e de internamento tem uma igreja. Que pensará o utente que ali entra!!!
Em 2006, apostou-se na criação de um centro hospitalar que poderia englobar os hospitais da Guarda, Covilhã e Castelo Branco, onde foi utilizado régua, esquadro e o mapa da Michelin para calcular custos e distâncias, seguindo o princípio de “todos ficarem em pé de igualdade”. Com a criação da ULS da Guarda, em setembro de 2008, tudo indicava que assim ia acontecer. Curiosamente os factos estão à vista. O Despacho 10.601/2011, de Paulo Macedo, dá a conhecer a carta hospitalar, reorganização da rede hospitalar, concentração de serviços, criando um grupo de trabalho que concretizou o acordado entre o Governo, o BCE e o FMI, chegando ao cúmulo, na comemoração do 35º aniversário do Serviço Nacional de Saúde (SNS), de Passos afirmar: «O SNS sofreu a maior ameaça de toda a sua história», atribuindo cinicamente crescimento positivo a um sector que desprezou e hipotecou à gula privada.
Na sexta-feira, naquele que foi o penúltimo ato público de Adalberto, ficámos a saber que poderemos vir a ter um Centro de Responsabilidade Integrada de Pneumologia. O ex-ministro passou ao lado do seu triste despacho de 3 de agosto. Entregou, tal qual se fazia no tempo da outra senhora, as chaves de quatro carrinhos ao som de cantos dos mais novos e, sem qualquer favor, disse que iria reabilitar o pavilhão 5 para ver se é desta que as piores instalações pediátricas do país passam a melhores instalações…porque quanto aos costumes disse nada. A falta de profissionais no interior, cardiologia, a ortopedia, etc. etc… esperando apenas que a nova ministra, Marta Temido, seja efetivamente bem mais destemida que o seu antepassado para com todo este interior profundo, mesmo sabendo e tendo consciência que irá governar com o orçamento do seu antecessor.
É que nesta orquestra orquestrada, com bandas à mistura, marcam por cá permanentemente presença os Police, os Fanfarrões, os Mãos Morta, os Porquinhos da Ilda, os Xácaras e as Quintinhas do Bill, alguns bombeiros voluntários, uns tantos cínicos e mais uns poucos hipócritas. E se tudo permanecer mais ou menos na mesma, terminamos, mais dia, menos dia, à porta do vizinho, cantando a estrofe final do “Claire de La Lune”.
“On cherche le feu. En cherchant d’la sorte. Je n’sais c’qu’on trouve. Mais je sais que la porte. Sur eux se ferme”.
E se na cidade mais alta já temos dois Centros de Saúde, seguramente não precisamos de um terceiro. Salvem a saúde no distrito, salvem o Hospital, porra…