«Só há uma forma de saber se um homem é honesto… pergunte-o. Se ele disser “sim”, então você sabe que ele é corrupto» – Groucho Marx.
Confesso que nunca vi tanta gente a assumir-se séria e acima de tudo divulgá-lo publicamente. Um ex-Presidente da República, Cavaco Silva, teve o topete de dizer que «ainda estava para nascer alguém mais sério que eu». Bastava este exemplo para de facto o aforismo de Marx ter toda a legitimidade.
Estou um pouco farto de gente que se diz séria. Aqui há muitos anos um ex-primeiro-ministro de Portugal, o infausto professor Mota Pinto, disse uma quase heresia que levantou um coro de indignação quando afirmou que «não há nenhum português que já não tivesse transgredido nas suas obrigações». Ele disse a verdade e de facto as situações vão-se repetido, o que leva a que o português, como todo o latino, está sempre disponível para torpedear o sistema.
Não vou falar das grandes vigarices, que essas vão estando em hibernação, em que a maioria dos advogados não pretende demonstrar que os seus clientes são sérios, que não fizeram manigâncias, mas levam a sua defesa para o arrastar dos processos, para que prescrevam e outros expedientes e habilidades que arranjam para contornar a lei. Há crimes que quotidianamente se cometem como piratear filmes e músicas, ver a bola à borla, estacionar em lugares impróprios, e tantas situações que são a nossa vivência comum, onde o pedido e a aceitação do pequeno favor é um dos mais insignificantes pecadilhos. Mas achamo-nos sérios na mesma!!
Deixemo-nos de hipocrisias. Somos humanos, vivemos numa sociedade desequilibrada e com valores e educação herdados, que alimentam o nosso estar nas coisas! Uma adaptação de uma frase de Mia Couto: «Contra factos tudo são argumentos».
Talvez um pouco à margem, hoje não estamos em fase de lamber feridas, estamos num período em que tem que haver coragem, solidariedade e espírito de coesão para fazer fase à situação de pandemia, mas é bom que se vão apontando algumas situações que urge inverter no futuro. Mais arde lenha verde que pedra enxuta, e por isso é urgente que se faça uma reflexão profunda da assistência aos idosos neste país, e em vez de finlandizar ou norueguizar a legislação, que se olhe de vez para as estruturas assistenciais, e que se acabe de vez com verdadeiros silos de idosos onde, em situações como a que vivemos, são pasto fértil para que qualquer vírus se instale. Vai ser importante refletir e muito, porque ainda há futuro para os idosos, ao contrário do que se faz na prática vivida. Recupero um provérbio da Louisiana: «Envelhecer é mau, mas a alternativa é bem pior».
Foi um artigo de final de ano, a roçar a banalidade, mas cumpriu-se! Até para o ano!