Sopra o vento. Vem de leste. Do lado de cá diz-se que de Espanha nem bom vento nem bom casamento. Mas… o vento não se pode ver. Pois não.
Já a palavra ganha visibilidade e, sem qualquer surpresa, a de 2023 muita dela acabou e a outra que transitou para 2024 pede permissão para se organizar… Sim, porque partindo do princípio que palavra dada é palavra honrada e, antes que seja levada pelo vento, teremos de a agarrar com unhas e dentes e a que ganha dimensão pode trazer-nos o brilhozinho nos olhos, força, determinação, originalidade. Afinal de contas, é este o nosso constante desejo.
E se Eugénio nos diz que já gastámos todas as palavras e o que ficou não chega, mesmo que nas interditas os hospitais continuem a cobrir-se de cinzas e as palavras de Vergílio se tornem em bola de neve, o que fez com que o bom do Perdigão dos cabritos perca a causa contra o Bernardino e o Trolaró, o Noddy e o Mafarico esperam também ganhar capacidade com vista a destruir todas as palavras de Sartre, a menos que (pegando nas outras, nas palavras de Pimenta), o Papagaio verdadeiro diga uma coisa e faça outra ou então escolhemos o animal parlante de cara roxa ou se formos mais longe, o eclectus, o tal do dimorfismo sexual que quando macho é verde e quando fêmea se travestia de vermelho.
Para esses piratas do sistema, meteorologistas doutrinários do vento e argumentistas da palavra pura, cristalina e fácil de ouvir, virão agora, em 2024, dizer-nos que é urgente, necessário e imperioso que a limpeza ecuménica se faça no imediato, até porque o processo biológico possui uma arma infalível que irá destruir todo o mal e corrupção que grassa por esse mundo fora.
Esses escarros que entretanto a democracia deixou parir, quais ratos de sacristia, trarão um sopro de vento do norte mesmo percebendo que jamais moverão moinhos, mas irão dizer que, por magia, o circo do boulevard transformará, pelas mãos do verdadeiro artista, o lenço da lapela em pombas e coelhos e o baralho de cartas em notas de 500 euros.
Em 2024 o discurso será este. Por cá, pela Europa e por mais de 70 países que irão cumprir o preceito democrático. Cabe-nos denunciar o mais que conhecido monstro mula sem cabeça que irá apresentar-se como o Perdigão dos cabritos, utilizando para tanto a palavra cristalina, na oferta da terra prometida ou na venda de dez pares de meias e mais duas dúzias de cuecas apenas pela módica quantia de notinha mínima de 5 euros.
E depois… constatamos a existência de uma cáfila de filhos de putin, a que somam uma quantidade significativa de doidos (mesmo à solta), que decidem guerras, assassinatos, cataclismos e também o nosso futuro coletivo e o futuro do planeta.
Nesta loucura que (ainda) não é generalizada há seguidores (uns pelos conhecidos interesses, outros por questões ideológicas e ainda outros pela imprudência cultural), cabe-nos apostar no tal espaço de diálogo e reflexão onde as palavras utilizadas encontram sempre a realidade do bom vento que, sem facilitismos, nem malabarismos, mas acima de tudo com o verdadeiro sentido da realidade e responsabilidade trarão a esperança e energia em algo melhor. Assim esperamos…
Neste jogo de palavras apenas acrescentar que a outra parte, se calhar a última e, quiçá, a mais interessante, a do sentimento, do desejo e da emoção e que a cada um diz respeito continuará no silêncio sepulcral (ainda bem). Não vem cá para fora, não se vê porque é vento e as palavras ficam guardadas naquilo que Sparks um dia escreveu: «As palavras que nunca te direi».
Resta apenas desejar-lhe, caro leitor (mesmo com todos os constrangimentos e dificuldades conhecidas), votos sinceros de um excelente de 2024.
As palavras em 2024
“Neste jogo de palavras apenas acrescentar que a outra parte, se calhar a última e, quiçá, a mais interessante, a do sentimento, do desejo e da emoção e que a cada um diz respeito continuará no silêncio sepulcral (ainda bem). Não vem cá para fora, não se vê porque é vento e as palavras ficam guardadas naquilo que Sparks um dia escreveu: «As palavras que nunca te direi».”