A semana passada encerrou parte do debate sobre o candidato do PSD à Câmara da Guarda. O presidente do PSD, Luís Montenegro, reiterou que o partido não podia incluir nas suas listas às eleições autárquicas candidatos acusados pela Justiça. Na verdade, essa era já a posição oficial do partido, mas entre silêncios, distrações e vontade de ganhar votos havia quem esperasse que Montenegro olvidasse a resolução e, por entre o ruído de outras polémicas, o tempo fosse passando e a decisão ficasse na gaveta. “Azar dos Távoras”, a salgalhada do PSD em Lisboa, revelada pela investigação “Tutti-Fruti”, fez muito ruído, tanto que Luís Montenegro teve de levantar a voz e recordar que quem tiver problemas com a Justiça fica excluído das próximas autárquicas. Evidentemente, a presunção de inocência não está aqui em causa. E qualquer cidadão tem todos os direitos e não pode ser impedido de exercer a sua vontade de participar ou ser candidato em eleições por estar a ser investigado ou envolvido em algum tipo de processo judicial. Mas não o pode fazer em listas do PSD…
Como oportunamente este jornal divulgou, o PSD discutiu a escolha do candidato do partido à maior autarquia do distrito da Guarda e o nome de Álvaro Amaro estava em todas as cogitações. E seria mesmo o preferido pela maioria dos militantes, mesmo daqueles que não apreciavam o regresso de Amaro depois da “fuga” para Bruxelas. O antigo presidente da Câmara da Guarda “andava por aí” e não escondia a sua vontade de regressar. Ele, como o partido, sabiam que o tempo de um eventual regresso de Sérgio Costa ao PSD se tinha esgotado e as opções vitoriosas eram muito escassas: Álvaro Amaro tinha a popularidade e os estudos de opinião que lhe davam alguma possibilidade de sucesso. Mas foi condenado no Tribunal da Guarda no caso das parcerias público-privadas em abril de 2023, recorreu da decisão que considerou «brutalmente injusta» e está pendente do recurso. Ou seja, supostamente, o eventual interesse ou disponibilidade de Álvaro Amaro para voltar a ser candidato do PSD esbarra contra a morosidade da Justiça e a norma de Montenegro, por isso não poderá ser candidato do PSD.
Situação similar se aplica a Rui Ventura. O ainda presidente da Câmara de Pinhel seria outra das possibilidades do PSD para candidato. Não é conhecido nos meios rurais do concelho, mas é reconhecido na cidade e as campanhas são, precisamente, para tornar um candidato popular. Poderia mesmo ir como segundo de Amaro e, vencendo, ser o sucessor do antigo secretário de Estado da Agricultura à frente da Câmara da Guarda (especulações!). Mas o Tribunal da Guarda absolveu o presidente da Câmara de Pinhel de sete dos oito crimes de peculato de que foi acusado e condenou-o por um crime de peculato de uso pela utilização de viatura da autarquia para participar numa reunião do PSD. Recorreu. Fica à espera. E é excluído pela norma de Montenegro. Entretanto, Rui ventura é candidato a presidente do Turismo do Centro.
Restam dois nomes ao PSD: João Prata e Carlos Chaves Monteiro. O primeiro representa o passado, depois de quase 24 anos como presidente da Junta (12 anos à frente da extinta freguesia de S. Miguel e mais 12 na Junta de Freguesia da Guarda), se bem que, como sempre, declarou que estará onde o partido o precisar… E o segundo, depois de o partido o ter deixado sozinho a fazer oposição a Sérgio Costa, é uma opção muito improvável.
A coerência de Luís Montenegro, ao manter a norma de exclusão a quem estiver acusado pela Justiça, vai obrigar o Partido Social Democrata a voltar atrás, e escolher outra via, a mais provável e segura, a única que lhe garante sucesso: o PSD acabará por apoiar a candidatura de Sérgio Costa. Sem Ana Mendes Godinho na corrida, mesmo que alguns militantes do PSD não perdoem a forma como Sérgio Costa os vexa, a vantagem do atual edil é muita e os partidos vivem de vitórias.