A análise às eleições europeias, que em Portugal decorreram no passado domingo, merecem a atenção de todos, pois é o futuro imediato da Europa que está em causa. E, em consequência, o nosso futuro – sim, porque cada vez mais, as decisões que se tomem em Bruxelas terão consequências diretas e indiretas no dia a dia de todos.
A noite eleitoral em Portugal ficou marcada pelo discurso de Luís Montenegro de apoio à candidatura de António Costa para presidir ao Conselho Europeu. Um discurso onde o líder da AD, habilidosamente, relegou para segundo plano Sebastião Bugalho e assim desviou a atenção sobre a derrota eleitoral e a escolha errada do candidato (que só não foi trágica para a AD porque as medidas que Governo implementou foram assertivas). E Pedro Nuno Santos teve a sua primeira vitória para o PS através da excelente escolha de Marta Temido para liderar a lista – à popularidade, a antiga ministra da Saúde exibiu uma admirável capacidade de interagir com as pessoas e de comunicar facilmente.
Igualmente relevante foi a grande derrota do Chega. Depois da subida fulgurante nas última legislativas, com mais de um milhão de votos e a eleição de 50 deputados para a Assembleia da República, o partido de André Ventura teve menos de 390 mil votos (não chegou aos 10%) e ficou muito longe dos objetivos elegendo apenas dois deputados. Pelo contrário, a Iniciativa Liberal foi outro dos vencedores da noite, com Cotrim Figueiredo a ser provavelmente o melhor candidato de umas eleições em que a esquerda foi derrotada – em 2019, a esquerda em conjunto elegeu 14 eurodeputados agora ficou-se pelos 10; a direita passou de 7 para 11 eleitos, ou seja, mau sinal para o PS pensar numa alternativa governativa… O Orçamento vai ser aprovado pelo PS, pois ainda não chegou o momento de Pedro Nuno Santos. As eleições foram para o Parlamento Europeu, mas também servem como um estudo de opinião em que fica claro que, para já, não vai haver crise política e deixam Luís Montenegro de pedra e cal na liderança do governo.
A generalidade dos eleitores pensa e vota em termos nacionais. E a análise acaba por ser também essencialmente nacional. Durante a campanha, sempre ouvimos dizer que não devem ser feitas extrapolações dos resultados em termos nacionais, mas a verdade é que as eleições são para o Parlamento Europeu, mas as consequências políticas imediatas são de caráter nacional. É assim em toda a Europa.
Em França, a extrema direita teve o dobro dos votos do partido do presidente Macron e, na noite eleitoral, este fez a leitura radical de convocar eleições legislativas considerando os resultados eleitorais para o Parlamento Europeu; na Alemanha, a coligação governamental de Olaf Scholz foi humilhada pela extrema-direita (AfD). As tais eleições que eram para o Parlamento Europeu, que não deviam ter extrapolações nacionais… e que afinal nos apresentam toda a fragilidade dos líderes das duas maiores potências europeias: França e Alemanha – até quando irão sobreviver Macron e Scholz?
Mas, apesar das vitórias da extrema-direita em França e Itália, ou do seu avanço na Alemanha, a composição do novo Parlamento Europeu continua a ser dominada pelos grandes partidos moderados. A União Europeia é uma extraordinária criação, de espaço comum de solidariedade e desenvolvimento. E é neste espaço, com defeitos e riscos, que devemos continuar a defender mais integração e mais compromisso europeu com os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade – esses valores que aprendemos com a Revolução Francesa e de que não queremos abdicar.
As europeias deram fôlego a Montenegro
“A noite eleitoral em Portugal ficou marcada pelo discurso de Luis Montenegro de apoio
à candidatura de António Costa”