Se há poucas semanas se discutia se o PS poderia chegar ou não à maioria absoluta, uma das conclusões a retirar das próximas eleições legislativas é que afinal as campanhas eleitorais ainda contam… Depois de meses de pré-anúncio de vitória socialista, eis que as sondagens (por muito pouco fidedignas que alguns considerem) nos antecipam uma previsível vitória dos socialistas, mas sem maioria e o PSD cada vez mais perto. Uma vitória amarga, portanto.
Em poucas semanas – as da campanha – tudo mudou. Se nos meses anteriores em uníssono todos concluíamos que a liderança de Rui Rio era inepta e o discurso ziguezagueante, em contraste com a assertividade de António Costa, a campanha “aqueceu” em especial com o caso Tancos (aquilo que parecia um surpreendente roubo de material militar, vergonhoso para o Exército, embaraçoso para o Estado, e se transformou num caso de mentira ao mais alto nível – o ex-ministro Azeredo Lopes que tinha sido um deplorável presidente da ERC – Entidade Reguladora da Comunicação, que geriu com tiques salazarentos, e que afinal nem sabe o que é um paiol, a ser supostamente conivente com o embuste e o encobrimento que provoca irritação no país e de que o PS não pode fugir).
Como tantas vezes se comentou nos jornais, a António Costa bastava não se mexer para ganhar e se não houvesse ruído até poderia chegar à maioria. O secretário-geral escolheu mexer-se, respondeu a Assunção Cristas com violência verbal inusitada, «perdeu a paciência» com Rui Rio, humilhou o BE e Catarina Martins e tratou o PC com desdém. E apanhou com o ruído do nepotismo, dos negócios da família socialista e os tiros de canhão de Tancos.
Se os resultados de domingo confirmarem as sondagens dos últimos dias, com os mais velhos a escolherem a tranquilidade que lhes assegura o PS, com os jovens a seguirem o PAN e os mais preocupados a concordarem com Rio, o país continuará virado à esquerda, com o PS a depender menos da “geringonça” mas preso ao apoio “animalista” ou a qualquer outro que não peça muito. E com a dispersão de votos – Santana Lopes não deverá conseguir entrar no parlamento, mas a Iniciativa Liberal pode e o Livre de Rui Tavares também.
Numas eleições em que Castelo Branco deverá continuar a apoiar maioritariamente o PS; o distrito da Guarda só elegerá três deputados.
Mas a vantagem na Guarda poderá ter relevância nacional. O PS, como se prevê, deverá eleger dois deputados e acumular vantagem sobre a oposição. E o PSD terá uma derrota que terá de ser, também localmente, explicada – nem a projetada recuperação nacional de Rui Rio poderá silenciar a maior concelhia do distrito: a de Pinhel. E internamente terá de ser discutido o lugar dado à concelhia da Guarda, um humilhante lugar de suplente que pode dar alguma visibilidade à ambição de Tiago Gonçalves, mas é pouco dignificante para o partido na capital de distrito. Se Carlos Peixoto parte para o seu quarto mandato como deputado pela Guarda, sem nunca se ter comprometido com qualquer causa distrital (como por exemplo a defesa da abolição das portagens), as sombras e despojos da herança de Álvaro Amaro irão começar a notar-se no dia seguinte: a lista feita à medida do agora deputado europeu que desvalorizou a Guarda e excluiu Pinhel, mas também as divisões na Guarda, onde as ambições pessoais de alguns ditarão lutas e divisões pouco profícuas para o partido – ainda que o PS, onde Eduardo Brito irá abandonar a vereação do município, nada tem a acrescentar: as divisões serão cada vez mais e os militantes disponíveis para os próximos dois anos serão cada vez menos. Ou antes, serão os mesmos de sempre, sem nada de novo.
Vá votar!
As campanhas ainda servem para alguma coisa…
O PSD na Guarda terá de discutir o lugar pouco dignificante dado à concelhia na lista de deputados