As alterações climáticas e as espécies

Escrito por António Costa

As glaciações foram o elemento climático mais característico dos últimos dois milhões de anos da história do nosso planeta. A influência deste fenómeno é tão grande que marca o início de um período geológico que é designado por Quaternário. Foi neste período que se deu a evolução da espécie humana.
Quando se estuda o aparecimento de diversas espécies de hominídeos, bem como a sua distribuição geográfica ou as peculiaridades anatómicas que podem dar resposta a diferentes adaptações, dedica-se uma atenção especial às variações climáticas, na medida em que estas influenciam decisivamente as migrações, o tipo de vegetação e de alimentos que podem obter-se em determinadas zonas e, inclusivamente, o tipo de refúgio e vestuário que são necessários à sobrevivência.
Durante a história da Terra registaram-se sete episódios – porventura mais – de vastas glaciações nas eras Pré-câmbrica e Paleozóica. Chama-se Quaternário ao período que compreende os últimos 2,5 milhões de anos. Tudo o que se refere à evolução humana registou-se neste período, que se distingue pelo arrefecimento do planeta e pela diminuição do valor médio da precipitação. O período Quaternário divide-se, por sua vez, em duas épocas geológicas: o Pleistoceno e o Holoceno. Durante o Pleistoceno (que vai dos 2,5 milhões de anos aos 11.784 anos antes do presente) os períodos glaciares (quando a temperatura baixa) alternaram com períodos interglaciares (quando a temperatura sobe), intervalos entre os 40 mil e os 100 mil anos antes do presente.
Nas épocas mais frias os gelos cobriam grandes extensões no norte e no sul do planeta, e em épocas mais temperadas, as águas geladas cingiam-se às imediações dos polos ou às regiões de altas montanhas. Estas oscilações climáticas tiveram uma grande influência na distribuição dos seres vivos. A diferença da temperatura média entre um período quente e um período frio é de apenas 4 a 7ºC, mas o seu efeito é contundente: os glaciares avançam em direção ao Equador ou retrocedem milhares de quilómetros. Estas alterações nas grandes massas de gelo afetam o nível do mar (que pode subir ou descer várias dezenas de metros), o caudal dos rios, a distribuição da pluviosidade e o clima de uma forma geral.
O Holoceno, que teve início há pouco menos de 12 mil anos, é um período interglaciar durante o qual grandes massas de gelo se derreteram, o que levou à subida do nível dos mares mais de 120 cm e causou a inundação de grandes porções da superfície terrestre.
Há 2,8 milhões de anos o clima de África foi seriamente afetado por estas oscilações climáticas e as florestas deram lugar à savana, processo que não parou desde então. As espécies que conseguiram adaptar-se aos ambientes áridos foram favorecidas, o que pode ter sucedido, por exemplo, no caso dos hominídeos, que saíram de África há cerca de um milhão de anos e chegaram à Europa, onde, durante o Pleistoceno, colonizaram o continente.

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António Costa

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