Apoplexia reativa

Escrito por Diogo Cabrita

«Outra conclusão que retiro é que o Porto e Faro foram as cidades que melhor se prepararam, adaptaram e reagiram à Covid-19»

A 5 de fevereiro os dados eram os presentes:

210 internados no HUC e 200 internados nos Covões, dando um total de 410 doentes. 204 doentes com mais de 75 anos (110 no HUC), 130 doentes com mais de onze dias de internamento (43 no HUC com mais de 17 dias e 26 nos Covões com mais de 17 dias). Doentes com mais de 85 anos são 93. No Sobral Cid estão internados mais 12 doentes, mas a infeção por Covid é na realidade uma infeção hospitalar, pois estavam todos há mais de 1.200 dias em internamento (a doença Covid 19 nasceu há 400 dias).

No HUC há um número de doentes considerável cujo teste PCR, feito por rotina, deu positivo, mas a razão do internamento é outra patologia. No Pediátrico está um doente com teste positivo mas por outra patologia internado. Quatro doentes internados com menos de 25 anos em 39 com menos de 49 anos. Da análise destes doentes temos patologia associada grave (oncologia, transplantes) em mais de 30% e patologia associada, como obesidade mórbida, patologia psiquiátrica, em mais de 40%. Isto significa que há pelo menos 16 jovens (abaixo de 50 anos) que conheceram a doença mais sintomática provocada por sars-Cov 2. Somando os cinco menores de 50 anos na UCI (cuidados intensivos em todos os hospitais do CHUC) são 21 doentes num universo de 445 doentes internados.

Da análise podemos concluir que o HUC tem fraco “turnover” (constrangimento para altas), o número de jovens afetados com gravidade é muito baixo, há dois problemas enormes construídos com a Covid: a faixa de 50-70 anos obesa masculina que precisou de intubação orotraqueal e ocupa grande parte das camas durante bastante tempo. O segundo drama foi a mortalidade de pessoas com mais de 80 anos (pelo SICO mais de 300 por dia durante 15 dias – inédito desde que há registos de mortalidade). Outra conclusão que retiro é que o Porto e Faro foram as cidades que melhor se prepararam, adaptaram e reagiram à Covid-19 dando lições de gestão e de planeamento a muitos dos que estiveram a comandar Lisboa, Coimbra e outros lugares de onde não ficam registos nem ciência. Muitos do terreno, como os dos Covões, tiveram a vida árdua por um comando de estratégia que será um “case study” de apoplexia reativa.

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Diogo Cabrita

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