1. Com razoável surpresa e de forma imprevista, o PS confirmou a escolha de Luís Couto como candidato à Câmara da Guarda.
Adormecido à sombra das disputas no PSD, os socialistas da Guarda estiveram ao logo de todo o mandato à espera “que as coisas acontecessem” sem definir uma estratégia, sem fazer oposição e sem promoverem uma alternativa (ou um grupo de trabalho e uma candidatura forte). O PS ficou mesmo à espera que Rui Rio anunciasse a escolha do candidato e que a dimensão autofágica do PSD crescesse para depois receber o poder de bandeja. Provavelmente é ainda isso que os socialistas aguardam mesmo com a decisão do líder do partido de apoio a Carlos Chaves Monteiro – esperam que Sérgio Costa avance com uma lista divergente (“independente”), porventura com o apoio de Álvaro Amaro), que possa dividir o PSD e, como consequência, o PS poder ser o mais votado. Só assim se compreende a escolha de Luís Couto: um PS à espera que os votos lhe caiam do céu sem fazer nada por isso.
Depois de António Monteirinho se ter “chegado à frente”, como candidato da concelhia que lidera, e de Esmeraldo Carvalhinho ter sido sondado para liderar uma lista para disputar o regresso do PS ao poder na capital de distrito, esperava-se um candidato facilmente reconhecido e galvanizador. Luís Couto terá as suas qualidades e méritos, mas não é uma personalidade aglutinadora, nem um candidato que suscite entusiasmo e adesão popular. O diretor do estabelecimento prisional da Guarda, que já foi deputado municipal do PS, vai seguramente agregar alguns socialistas desavindos e poderá reunir à sua volta muitos dos dirigentes que têm andado afastados do PS Guarda, mas a sua escolha fica muito aquém das expetativas – o PS é governo, António Costa afirmou que iria apostar forte na conquista da capital de distrito e os nomes das ministras Ana Abrunhosa e Ana Mendes Godinho eram desejos e as opções com mais potencial. A Luís Couto o PS terá de dar as melhores condições para acalentar expetativas de um bom resultado, e uma boa campanha ou uma boa lista podem fazer a diferença, mas, para já, o candidato não consegue empolgar ninguém.
2. Um ano de pandemia e dois confinamentos “agressivos” levaram a economia a uma crise intensa de consequências incalculáveis. O comércio tradicional e a restauração estão à beira de um ataque de nervos e muitos estabelecimentos poderão mesmo não reabrir – são necessários mais apoios às pequenas e médias empresas, às microempresas e empresas familiares e aos sócios-gerentes que têm sido desconsiderados em toda a equação de apoios públicos.
Num momento em que se esperava que a vacinação em massa permitisse uma taxa de imunização razoável, assistimos a atrasos na distribuição das vacinas e ao adiamento do regresso à normalidade. Pior, a Europa volta a ter de se fechar perante o aumento de contágios e os confinamentos voltam a ser o denominador comum a diferentes geografias. A Europa que falhou a negociação com as farmacêuticas, que está atrasada na vacinação e não conseguiu liderar o combate à Covid-19, tarda em avançar com a “bazuca” de apoio à economia: depois de falhar redondamente em termos de gestão da crise, falha também na capacidade de tomar medidas para promover a retoma económica.
Entretanto, e no meio de tantas dificuldades para todos, a aprovação de apoios sociais, que todos os que sofrem com a crise anseiam, o primeiro-ministro ficou furibundo com a promulgação de uma lei que consideram inconstitucional. A maioria socialista não aceitou de bom grado que “as oposições” se juntassem com o Presidente da República para combaterem as dificuldades de muitos. Portugal está entre os países europeus que menos gastaram na resposta à pandemia – e a Europa fica muito aquém por exemplo dos pacotes de ajuda dos americanos.
Se é inconstitucional aprovar apoios sociais para ajudar quem precisa num tempo de pandemia, facilmente encontramos inércia legal ou o incumprimento da Constituição em muitas áreas – afinal, temos um país muito inconstitucional, mas parece que ninguém está preocupado com isso.
Apoios precisam-se!
«São necessários mais apoios às pequenas e médias empresas, às microempresas e empresas familiares e aos sócios-gerentes que têm sido desconsiderados em toda a equação de apoios públicos»