Apelo

Escrito por Diogo Cabrita

“Mais de 90% dos nossos associados são reclusos que estão proibidos, pelos nossos estatutos, de pagar quotas ou entregarem qualquer verba à associação, seja a que título for. “

Em setembro fui escolhido por alguns sócios e depois eleito presidente da APAR. A Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso é uma associação sem fins lucrativos, que não tem qualquer funcionário pago e onde ninguém recebe um cêntimo. Mas devia ter um funcionário permanente. Um apoio constante. Notem que 90% dos presos não cometeram crimes de sangue. Notem que um azar pode levar um homem bom à cadeia. Notem que há demasiados presos em Portugal.
Mais de 90% dos nossos associados são reclusos que estão proibidos, pelos nossos estatutos, de pagar quotas ou entregarem qualquer verba à associação, seja a que título for. Por tudo isto, por vezes, lutamos com algumas dificuldades para liquidar despesas correntes.
Uma das minhas vontades nesta presidência é tornar a APAR mais sustentável, contas mais fáceis de gerir. Estamos a pedir às câmaras municipais que coloquem a APAR nas suas dádivas correntes. A Guarda tem uma penitenciária e não vai ficar fora desse correio. Optámos também por pedir que neste Natal se lembrem de quem está em situação difícil. Fazer uma dádiva à APAR significa apoio e solidariedade.
O NIB da nossa conta: 0010 0000 5194 8440 0015 4
Estamos num tempo difícil em que a Direção-Geral de Reinserção e Sistemas Prisionais decidiu tornar horrível o Natal dos que estão encarcerados. Agora que quem vendeu a esperança na vacina teve uma resposta esmagadora dos reclusos e funcionários das penitenciárias (mais de 90% de vacinados), distribui castigo e privação a quem cumpriu. As mesmas restrições de 2020 vieram sufocar em quase 2022.
A APAR está contra esta injusta desproporção e contra a falta de senso e de lógica que tudo isto revela. A APAR está contra todos os exageros e luta pela dignidade de quem foi condenado. Não discutimos as penas atribuídas ou a decisão dos juízes, mas aos presos restringiu-se a liberdade, não a cidadania. Exigimos o cumprimento da lei para com os presos, até como medida de reabilitação. Estamos envolvidos nas discussões sobre o sistema de justiça, a alteração do regime de penas, a melhoria das condições nos estabelecimentos prisionais, a crítica a todos os negócios que se fazem em torno dos presos, somos uma voz que não se cala a medidas de redução do orçamento da Direção-Geral de Reinserção e Sistema Prisional. Portugal retirou à gestão do sistema prisional 60 milhões de euros em 2021. Não era um governo fundado por partidos com ex-presos políticos?
Contamos convosco.
Obrigado.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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