Anticorpos de camelídeos

Escrito por António Costa

“odos os mamíferos produzem anticorpos como armas de defesa perante a invasão microbiana. As suas dimensões e a sua complexidade variam entre as espécies.”

Todos os mamíferos produzem anticorpos como armas de defesa perante a invasão microbiana. As suas dimensões e a sua complexidade variam entre as espécies. Os camelídeos, entre os quais animais como os lamas, os camelos e os dromedários, por exemplo, produzem imunoglobulinas simples e pequenas.
Os anticorpos são moléculas complexas, formadas por duas subunidades maiores (cadeias pesadas) e duas menores (cadeias ligeiras), ambas apresentando regiões constantes típicas de espécie e outras variáveis focalizadas na deteção dos antigénios. Os linfócitos B são encarregues da sua produção, ao segregar os anticorpos com afinidades por epítopos (é a menor porção de antígeno com potencial de gerar a resposta imune). Este conhecimento permitiu gerar soros policlonais em diferentes mamíferos para depois utilizar os anticorpos com fins tecnológicos.
E, além disso, graças ao trabalho de Cesar Milstein e Georges Kohler, hoje podemos encontrar lotes de anticorpos com uma única especificidade. Os anticorpos monoclonais têm amplas aplicações no diagnóstico, mas também são usados como agentes terapêuticos para o tratamento de doenças como o cancro. Sendo moléculas complexas e grandes, muitas vezes apresentam problemas de solubilidade e, inclusivamente, torna-se difícil a sua produção recombinante para economizar custos. Parte destas dificuldades foram resolvidas graças ao sistema imunitário dos camelídeos. Estes animais caracterizam-se por produzir anticorpos formados apenas pelas cadeias pesadas. Estas imunoglobulinas pequenas são a base atual de diversas tecnologias inovadoras.
Cesar Miltsein, um dos investigadores que mais colaboraram nos avanços sobre esta matéria, nasceu em Baia Branca (Argentina), em 1927. Licenciou-se em Ciências Químicas na Universidade de Buenos Aires, instituição onde obteve o seu doutoramento baseado em enzimologia, que realizou enquanto trabalhava no setor privado para se sustentar. Entre 1858 e 1960 estabeleceu-se na Universidade de Cambridge, onde finalizou o seu segundo doutoramento também em estudos sobre enzimas.
Depois de um breve regresso à Argentina, que teve de abandonar por questões políticas, voltou a Cambridge, onde se instalou. Foi aí que desenvolveu a técnica para gerar anticorpos monoclonais juntamente com Georges Kohler, investigação que lhes valeu o Nobel da Medicina em 1984.

Sobre o autor

António Costa

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