Desafiaram-me a antever o futuro. Não tendo eu dotes de adivinhação, procurarei, ainda assim, fazer um exercício prospetivo em face dos dados que se conhecem. Antecipando conclusões, o que corre bem no país e no distrito, continuará a correr bem. Portugal – e a nossa região – deverão continuar a ser destinos turísticos seguros, de boa gastronomia e convidativos clima e acolhimento. O que corre mal em todo o território, continuará a correr mal. Nada de estrutural mudará porque as políticas implementadas também não mudaram. O Estado engordará, tornar-se-á ainda mais ineficiente e preguiçoso e o investimento público e privado não arrancarão. Iremos pagar mais impostos e taxas e a maioria dos portugueses terá menos dinheiro nos bolsos ao fim do ano.
A indecente e má figura de sermos o quarto país da Europa a crescer menos economicamente, já atrás da Roménia, Eslováquia, Estónia e Eslovénia (algo impensável há uns anos), não se alterará. A fatura da nossa eletricidade doméstica e industrial manter-se-á a mais cara da União Europeia e o preço dos combustíveis permanecerá incomportável e obsceno. O mercado de trabalho tenderá a pagar salários recorrentemente baixos e a convidar os jovens a emigrar, valendo os imigrantes que a instabilidade e a pobreza de outras paragens nos permitem captar. As nossas empresas viverão com a diabolização, o desprezo e esmagamento com que foram brindadas nos últimos 4 anos por uma esquerda preconceituosa e continuarão com enormes dificuldades em contratar pessoas, muitas delas não necessitadas e, ainda assim, cada vez mais prendadas com rendimentos sociais de inserção e afins.
A classe média, não protegida por benefícios e isenções de nenhuma ordem, arrastar-se-á a contar os tostões para sobreviver. Os jovens terão cada vez mais os olhos postos no estrangeiro e os idosos, em luta contra a solidão, a doença e a indiferença, em vez de serem ainda mais apoiados na fase final da vida com dignidade e com humanismo, terão a “oferenda eutanásica” da esquerda parlamentar, que aprovará finalmente a sua morte assistida e que tudo fará para branquear o estado degradante em que deixou o Serviço Nacional de Saúde ao atirar para as calendas consultas e cirurgias de quem delas mais precisa.
O discurso sobre o ambiente e as alterações climáticas fará manchetes, mas não nascerá um programa nacional de recolha e separação de lixo doméstico compatível com as nossas “lágrimas de crocodilo”. No interior do país o horizonte estará cheio de nuvens. Já tem Secretarias de Estado por cá instaladas, já tem um lugar no Conselho de Ministros para assinalar a sua agonia, mas não terá muito mais a não ser mezinhas e paliativos que não se tratam com receitas de “aspirina”. Um Governo politicamente sério, que agita o emblema da coesão territorial, não pode ordenar ao PS que vote contra a redução das portagens na A23 e na A25 (agora que a “troika” já cá não está e que o país já aparenta ter saído da bancarrota), não pode recusar o programa “Erasmus Interior” para atrair jovens estudantes para estes territórios, nem pode impedir a localização de futuros serviços públicos no interior de Portugal, tudo medidas recentemente apresentadas pelo PSD no Parlamento que a esquerda chumbou com inclemência.
Para mal dos “nossos pecados”, foi apenas a devastação e as mortes dos incêndios trágicos de 2017, que puseram o país centralista e mediático a falar dos denominados territórios de baixa densidade. Mas agora que já não há fumo no ar, tudo parece ter voltado à irrelevância e à subalternização. Só que não, não nos calaremos. As nossas gentes são heroicas e têm alma. Apesar das tormentas, não baixarão os braços. A esperança é mesmo a última a morrer. Com a responsabilidade política que os eleitores do distrito da Guarda honrosamente me confiaram, tudo farei para a manter viva até ao suspiro final do meu mandato.