Animais falantes, vacas voadoras e outras tantas personagens de ficção

Escrito por Albino Bárbara

Todas as histórias conhecidas começam assim: Era uma vez…
Pois bem, no tempo em que os animais falavam todos tiravam proveito dessa situação mesmo sabendo que tudo isso era uma verdadeira confusão e o paleio bem conhecido servia, única e exclusivamente, para se enganarem uns aos outros. Os burros imitavam a voz dos homens, os homens imitavam os burros, os cães imitavam a voz dos gatos e até a raposa, fina que nem um alho, imitava o cacarejar das pitas. O elefante Koshik aprendeu a falar coreano, a baleia branca comunicava com os humanos, o papagaio fala que se desunha e o bom do Vicente, na sua roupagem negra, diz sempre a mesma coisa. Curiosamente, ou talvez não, nesse tempo, no tempo em que os animais falavam, todos percebíamos a sua verdadeira intenção.
Nesta fábula do tempo encontrou-se o momento certo de oportunidade onde todas as historietas afetam um número indeterminado de animais, que todos os dias recorrem às híper lotadas urgências hospitalares para tratar o celebre síndrome do escorpião.
E se a Alice, no alto do seu castelo, continua a viver no tal país das mil e tantas maravilhas, aconselhando a infortuna lagarta, que dizer da outra Alice, escondida por detrás do espelho, sequestrando a única galinha de ovos de ouro, fintando definitivamente o lobo mau mesmo percebendo que continua a existir a cantadeira cigarra e a explorada trabalhadora formiguinha. E depois lá vem a cáfila toda: os ladrões da banca, os ladrões do sistema, os irmãos metralha, o João bafo de onça, o mancha negra, o tio Patinhas, o rato Mickey, o pato Donald, o Zé grandão, os escovinhas e o nosso bem conhecido coronel Cintra, que quer voar definitivamente para outras paragens.
Já que falamos em voar, é bom ter-se em conta que andamos todos enganados e, pelos vistos, as vacas têm asas e voam. Esses enormes mamíferos deixaram de ter por missão o trabalho de campo e a produção de leite (lá se vai a economia dos Açores), mudaram definitivamente de cor, são agora alaranjadas e arrosadas, e têm presentemente, por incumbência, substituir os novos aviões da TAP (que vêm com defeito de fabrico) para voarem, de cornos em riste e mamas cheias, para um específico destino europeu onde os bem-falantes, animais de uma figa, querem aterrar.
Finalmente e, quiçá pior que tudo isto, percebe-se que os velhos patetas pensando acertar no tempo certo, com sentido ridículo de oportunidade, de quem julga tramar Roger Rabbit, ladrando à lua, como se dali pudessem mamar a cabra, pensando abocanhar o melhor osso, vai cuspindo no prato onde sempre comeu e, de uma forma ruminante, sem que os temperos lhes possam causar qualquer indigestão, vão cantando e rindo, refletindo num processo estupidamente saudosista que lhes pode vir a causar umas valentes dores de estômago. Mas isso é lá com eles. Pela parte que me toca, dou isso de barato. Mas… Uma coisa eu sei. Que não é bonito, lá isso não é…

Sobre o autor

Albino Bárbara

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