Angústias de médico

Escrito por Diogo Cabrita

“Estes doentes não são hipocondríacos, não sentem medo da doença, não andam à procura do que pode vir ou deprimem com pequenos episódios de quase nada. Estes simulam doenças, carregam um reportório de malefícios e nunca melhoram.”

Munchausen syndrome – se nos calha um destes doentes é um problema. Eles utilizam milhares de consultas e nunca estão satisfeitos. Eles são “overusers” de urgências, de exames, de opiniões. Munchausen era um barão mentiroso, um contador de histórias que encantava nas suas façanhas de caça e guerra – tudo mentira. Estes doentes não são hipocondríacos, não sentem medo da doença, não andam à procura do que pode vir ou deprimem com pequenos episódios de quase nada. Estes simulam doenças, carregam um reportório de malefícios e nunca melhoram. Simulam e hiperbolizam, podem chegar a causar dano próprio e assim se perpetuam no sistema de saúde. Normalmente são mulheres, vivem sós, costumam ser obesas, da minha exposição é comum serem conflituosas com quem lhes não prescreve medicação ou pede meios complementares.
Uma síndrome de Munchausen não nos larga o pé. Nunca está satisfeito, nunca fez os exames necessários, e sobretudo o sistema é muito injusto consigo. Recentemente conheci uma mulher com perto de 220 idas à urgência em 12 anos. Mais de 380 consultas entre várias especialidades. Todos os medicamentos que lhe prescreviam para as maleitas referidas faziam mal, condicionavam iatrogenia. Dizia não tomar nenhum, mas o sistema comprovava compras imparáveis de fármacos. Para um cirurgião a correr entre macas, a pensar nas operações e nos procedimentos a fazer, esta doente é poço profundo. Trava a dinâmica e introduz atrito no trabalho. Todos os outros vão atrasar pois ela tem o tempo todo do mundo, a baixa imparável, a necessidade de atenção inesgotável. Se nos afastamos grita, zanga-se. Este é o típico exemplo de aborrecimento em saúde!

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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