Analgésicos, os 7 mitos

Escrito por Rita Maia

O INTERIOR inicia esta semana uma parceria mensal com a Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda. A rubrica “ABC Médico” é da responsabilidade do grupo de Internato Médico e pretende aumentar a literacia em saúde na área do distrito da Guarda. O objetivo desta coluna mensal é capacitar a comunidade a fazer parte integrante do seu processo de saúde/doença, motivando-a para comportamentos de vida saudáveis e decisões adequadas. Para tal, serão escolhidos temas pertinentes que serão apresentados por ordem alfabética, daí a designação “ABC Médico”.

A dor crónica tem uma prevalência de 36,7%, estando associada a custos que superam os 700 milhões de euros – 2,7% do PIB nacional. Apesar de ser um tema bem estudado, observam-se alguns mitos e crenças que vamos desmistificar relativas ao tratamento com analgésicos.

1. Há dores que não podem ser “aliviadas” – Cada “dor” é única, no entanto, a sua avaliação deve ser individualizada. Uma abordagem completa pode ajudar o médico a instituir a medicação que diminua a dor.

2. Os analgésicos provocam sonolência – Uma dor mal tratada leva à privação de sono devido ao desconforto que causa, contudo, quando se administram opioides (ex: tramadol, morfina), inicialmente o doente pode encontrar-se mais sonolento, sendo este um efeito passageiro. A sedação é frequentemente motivada por outros fármacos, nomeadamente benzodiazepinas e seus análogos.

3. Os opioides conduzem à adição – Quando prescritos adequadamente, e na dose certa, o risco de dependência é desprezível. Este mito tem contribuído para uma resistência à sua prescrição, conduzindo a um mau controlo álgico e perda de qualidade de vida do doente.

4. Os anti-inflamatórios administrados por curto período de tempo não têm risco gástrico – É uma crença que estes medicamentos administrados por curtos períodos não acarretam efeitos secundários, tal facto é falso, dado que as evidências atuais sugerem que o risco de padecer de doenças gástricas pode ser maior durante o período inicial do tratamento.

5. O inibidor da bomba de protões (ex: omeprazol) quando administrado juntamente com o anti-inflamatório protege contra os efeitos secundários gastrointestinais (GI) – A toxicidade dos anti-inflamatórios a nível do aparelho GI superior é bem conhecida, contudo os seus efeitos a nível intestinal são menos reconhecidos, estimando-se que sejam responsáveis por um terço das complicações. A toma destes dois fármacos representa a melhor estratégia para prevenir potenciais efeitos secundários do esófago e estômago. Contudo, esta associação, aparentemente, não protege a nível intestinal.

6. O anti-inflamatório tópico aumenta o risco de doenças cardíacas e gastrointestinais – Até à data, não há casos descritos, tal se justifica pela sua concentração no sangue, dado através da pele, ser tão pequena que dificilmente provoca efeitos adversos. No entanto, terá que haver sempre precaução no seu uso.
7. O anti-inflamatório deve ser sempre suspenso entre 7 a 10 dias antes de uma cirurgia – A sua suspensão por esse período é frequente, contudo esta recomendação não está baseada na evidência. É verdade que estes podem aumentar o risco de hemorragia, mas só quando presentes no organismo. É sempre importante individualizar cada caso. O médico deve considerar as características do fármaco e a clínica de forma a suspender por um menor período de tempo, sem acarretar riscos para o doente.

* Médica interna na USF “A Ribeirinha”

Sobre o autor

Rita Maia

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